São Paulo, domingo, 23 de setembro de 2001

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GREVE NAS FEDERAIS

Pagamento é feito por consultas e exames, afetados pela suspensão de atendimentos não-emergenciais

Hospitais prevêem queda de repasse do SUS

ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO

A greve dos professores e dos servidores das universidades federais poderá inviabilizar, caso se prolongue por muito mais tempo, a administração dos hospitais universitários. Essa é a previsão de reitores e diretores de hospitais ouvidos pela Folha.
A crise é agravada porque eles deixam de receber recursos do SUS (Sistema Único de Saúde) por estarem atendendo menos em decorrência da paralisação de atividades não-emergenciais. O SUS paga por consulta e exames.
Segundo o Ministério da Saúde, os hospitais universitários possuem 42 mil leitos, que correspondem a 8,7% do total em hospitais que recebem do SUS.
A situação varia em cada universidade. Os dados são estimados porque o repasse de consultas do SUS pode demorar de um a dois meses para ser contabilizado.
No hospital da UFPB (Universidade Federal da Paraíba), a direção calcula que deixará de receber R$ 190 mil por consultas e exames que não foram feitos no período de um mês, desde que começou a greve. Em média, o hospital recebe R$ 430 mil mensais do SUS.
"O ambulatório, nossa principal fonte de receita, está fechado. Cada consulta gera a solicitação de exames. Os casos mais graves, no entanto, exigem equipamentos sofisticados e que consomem mais recursos. Esses, não podemos deixar de atender", diz o reitor da UFPB, Jader N. de Oliveira.
Na UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), as consultas ambulatoriais também são a principal fonte de receita do hospital. Na semana anterior à greve, segundo o diretor-superintendente do hospital, Éfrem Maranhão, houve mais de 4.000 consultas. Após cinco semanas de paralisação, a média caiu para 500 por semana. Como o hospital já funciona com um déficit mensal de R$ 300 mil mensais, a queda na arrecadação preocupa a direção.
O hospital da UFF (Universidade Federal Fluminense) teve queda de 50% no atendimento. Em períodos normais, o repasse mensal do SUS é de R$ 340 mil. "Vamos ter um prejuízo brutal", afirma o diretor Rogério Benevento.
A situação pode ser amenizada com o fim da greve dos residentes. Na sexta-feira, o MEC e o sindicato chegaram a um acordo.
Apesar da boa notícia, ainda há o temor, entre os reitores, de que ocorra uma radicalização da greve que acabe por intensificar a paralisação nos hospitais.
Além disso, os efeitos da greve estão sendo sentidos mesmo em hospitais pouco afetados pela paralisação. "As pessoas estão deixando de vir porque sabem que a universidade está em greve", afirma o reitor da UFF, Cícero Fialho Rodrigues.
O diretor-geral do Hospital das Clínicas da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) expõe o mesmo quadro: "Mesmo com as atividades quase normais, houve queda no atendimento por causa da notícia da greve", diz Fernando Osni Machado.
A maioria dos reitores diz considerar justas as reivindicações, mas tenta convencer os servidores a não paralisar nem mesmo os atendimentos menos emergenciais para não prejudicar a população e a arrecadação.
Em alguns casos, no entanto, a solução foi mais drástica. O hospital universitário da UFPR (Universidade Federal do Paraná), por exemplo, só não parou por causa de uma decisão da Justiça.
"Houve uma manifestação judicial convocando os servidores a voltar ao trabalho por considerar a atividade essencial para a população", afirma Luiz Carlos Sobania, diretor do hospital.



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