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Motoristas divergem sobre medida
DA REPORTAGEM LOCAL
Os motoristas que utilizam a
passagem subterrânea que dá
acesso à avenida Paulista têm opiniões divergentes sobre a construção da rampa "antimorador de
rua" naquele local.
"Passo por aqui normalmente
sozinha e fico com medo. Há muitos jovens e eles sempre me olham
estranho. O farol para entrar na
Paulista fica fechado muito tempo
e acho que é um ótimo lugar para
ter assaltos", disse a universitária
Paula Donadio.
Já o comerciante Ronaldo Matias afirmou não se sentir inseguro no local e, por isso, acha a medida de Serra inócua.
Francisco Diassis, motorista de
um ônibus fretado que faz parada
na passagem subterrânea, não
considera o lugar seguro. Ao ver a
repórter parada na calçada, ele
abriu a porta do veículo e disse:
"Você é muito corajosa de ficar aí
sozinha". Segundo ele, a "molecada fica muito doida" às vezes e
chuta as portas dos carros. Contudo, ele não conhece ninguém que
tenha sido vítima de assalto ali.
Na parte impermeabilizada da
passagem subterrânea existem
pelo menos três diferentes grupos
de moradores de rua.
Eles ocupam os espaços com
cobertores, vassouras e cozinhas
improvisadas (com direito a mesa
e fogão feito com pedras). Há até
uma espécie de quarto, separado
por pedaços de madeira de meio
metro de altura.
Já na área verde da passagem há
calcinhas coloridas e toalhas secando sob o sol em galhos finos de
árvores. Os três cachorros vira-lata de um dos moradores passam
parte do tempo presos a um toco.
Sem alternativa
Algumas pessoas estão na área
há dois anos e outras, há seis meses. "Quem não queria um teto
para morar? Eu preferia viver
num lugar mais tranqüilo, onde
não tivesse medo de nada, mas
não tenho para onde ir e não consigo emprego", afirmou Lúcia dos
Santos, 35, que olha carros na rua
Bela Cintra.
Revoltados com a construção
da rampa pela prefeitura, os moradores dão sugestões ao prefeito
José Serra (PSDB) para resolver a
situação. "Em vez de mandar a
polícia e o rapa [fiscais] tirarem as
nossas coisas daqui, por que o
prefeito não nos coloca para trabalhar em algum lugar, numa
chácara, por exemplo?", questionou o padeiro desempregado Heronides Florentino da Silva, 30.
Lúcia contou que, no domingo,
a prefeitura e a polícia estiveram
no local e levaram cobertores e
roupas das pessoas. "Estamos
dormindo direto no chão ou no
papelão." A Subprefeitura da Sé
confirma ações para retirar "material" dos moradores e diz que há
apoio da PM porque alguns moradores são drogados.
Violência e sujeira
Junto a um dos grupos que habita a passagem, um mulher grávida de quatro meses apresenta o
olho esquerdo roxo e o rosto inchado. Sem querer se identificar,
ela pede doação de roupas.
E alguns moradores criticam a
forma como eles próprios vivem.
A desempregada Roseli de Oliveira, 48, acredita que muitos na
mesma situação que ela sujam as
vias e não têm higiene.
"Mas eu também acho um absurdo a gente não ter emprego,
não ter onde morar. Eu não gosto
dessa vida", disse.
(AB)
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