São Paulo, sexta-feira, 23 de setembro de 2005

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Motoristas divergem sobre medida

DA REPORTAGEM LOCAL

Os motoristas que utilizam a passagem subterrânea que dá acesso à avenida Paulista têm opiniões divergentes sobre a construção da rampa "antimorador de rua" naquele local.
"Passo por aqui normalmente sozinha e fico com medo. Há muitos jovens e eles sempre me olham estranho. O farol para entrar na Paulista fica fechado muito tempo e acho que é um ótimo lugar para ter assaltos", disse a universitária Paula Donadio.
Já o comerciante Ronaldo Matias afirmou não se sentir inseguro no local e, por isso, acha a medida de Serra inócua.
Francisco Diassis, motorista de um ônibus fretado que faz parada na passagem subterrânea, não considera o lugar seguro. Ao ver a repórter parada na calçada, ele abriu a porta do veículo e disse: "Você é muito corajosa de ficar aí sozinha". Segundo ele, a "molecada fica muito doida" às vezes e chuta as portas dos carros. Contudo, ele não conhece ninguém que tenha sido vítima de assalto ali.
Na parte impermeabilizada da passagem subterrânea existem pelo menos três diferentes grupos de moradores de rua.
Eles ocupam os espaços com cobertores, vassouras e cozinhas improvisadas (com direito a mesa e fogão feito com pedras). Há até uma espécie de quarto, separado por pedaços de madeira de meio metro de altura.
Já na área verde da passagem há calcinhas coloridas e toalhas secando sob o sol em galhos finos de árvores. Os três cachorros vira-lata de um dos moradores passam parte do tempo presos a um toco.

Sem alternativa
Algumas pessoas estão na área há dois anos e outras, há seis meses. "Quem não queria um teto para morar? Eu preferia viver num lugar mais tranqüilo, onde não tivesse medo de nada, mas não tenho para onde ir e não consigo emprego", afirmou Lúcia dos Santos, 35, que olha carros na rua Bela Cintra.
Revoltados com a construção da rampa pela prefeitura, os moradores dão sugestões ao prefeito José Serra (PSDB) para resolver a situação. "Em vez de mandar a polícia e o rapa [fiscais] tirarem as nossas coisas daqui, por que o prefeito não nos coloca para trabalhar em algum lugar, numa chácara, por exemplo?", questionou o padeiro desempregado Heronides Florentino da Silva, 30.
Lúcia contou que, no domingo, a prefeitura e a polícia estiveram no local e levaram cobertores e roupas das pessoas. "Estamos dormindo direto no chão ou no papelão." A Subprefeitura da Sé confirma ações para retirar "material" dos moradores e diz que há apoio da PM porque alguns moradores são drogados.

Violência e sujeira
Junto a um dos grupos que habita a passagem, um mulher grávida de quatro meses apresenta o olho esquerdo roxo e o rosto inchado. Sem querer se identificar, ela pede doação de roupas.
E alguns moradores criticam a forma como eles próprios vivem. A desempregada Roseli de Oliveira, 48, acredita que muitos na mesma situação que ela sujam as vias e não têm higiene.
"Mas eu também acho um absurdo a gente não ter emprego, não ter onde morar. Eu não gosto dessa vida", disse. (AB)


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