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Polícia investiga morte em autódromo
Administrador de empresas morreu durante curso de direção defensiva para motociclistas em Interlagos; não havia médico no local
Aula era dada por empresa privada, que locava espaço na zona sul de São Paulo; pelo contrato, deveria haver uma ambulância com UTI
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL
A polícia investiga a morte de
um administrador de empresas
que sofreu um acidente em julho deste ano dentro do autódromo de Interlagos, na zona
sul de São Paulo, quando participava de um curso de direção
defensiva para motociclistas,
ao lado de seu filho de 15 anos.
Relatos de testemunhas que
participaram do socorro de
Carlos Eduardo Pelosi Giraldes, 46, indicam falhas e irregularidades no atendimento da
vítima, que expuseram as deficiências e fragilidades no controle das aulas que são dadas
por empresas privadas, com
autorização do município, dentro da pista de corrida mais famosa do Brasil e que vai receber a F-1 no mês que vem.
Nos 66 anos de história de
Interlagos, segundo a SPTuris
(empresa municipal responsável pela pista), não houve até
hoje mais de cinco mortes por
acidentes no autódromo -os
casos anteriores relatados se
deram em eventos esportivos.
Entre os problemas no atendimento de Giraldes estava a
falta de uma ambulância com
UTI e de um médico ou enfermeiro de plantão na aula em
que ele se acidentou, segundo
confirmação dada à Folha pelo
Coren-SP (Conselho Regional
de Enfermagem) e por dois
profissionais que levaram a vítima ao hospital, onde ela morreu depois de quatro dias.
A obrigatoriedade de haver
essa infra-estrutura de socorro
constava do contrato de locação do espaço pela prefeitura.
O administrador de empresas acabou socorrido pela ambulância de suporte básico,
sem UTI, do motorista Eduardo Amato, 38. A atendente de
plantão não era médica nem
enfermeira. Ela tem um curso
de 48 horas de socorrista.
O diretor de fiscalização do
Coren-SP, Claudio Alves Porto,
afirma que foram adotados
"procedimentos inadequados".
Entre os que são alvos de
apuração do órgão está a forma
de retirada do capacete da vítima e a sua locomoção sem um
colar cervical -algo que poderia ter agravado seu estado.
"A gente sabe que houve falhas graves. A ambulância não
estava equipada nem tripulada
da forma adequada. Há fortes
indícios de negligência", afirma
Porto. "Não dá para dizer que,
se estivesse tudo correto, ele
iria sobreviver. Mas as chances
sempre aumentam", diz ele,
cuja entidade vai relatar a situação à Promotoria e pretende mover ações para responsabilizar a escola e a prefeitura.
O presidente da SPTuris,
Caio Luiz de Carvalho, diz que
a escola de pilotagem Século
21, responsável pelo curso, já
foi proibida de dar as aulas até a
conclusão do inquérito policial.
Afirma, porém, que a responsabilidade cabe somente à empresa privada. "É um contrato
de locação do espaço e que tinha exigências. Se algo não foi
atendido, a responsabilidade
legal é da escola", diz ele.
Curva
Giraldes era fã de motos e entrou no curso para acompanhar
seu filho. A mãe do adolescente,
ex-mulher da vítima, é parente
do presidente da Federação
Paulista de Motociclismo.
O acidente ocorreu enquanto
ele dava voltas sozinho na pista.
A queda foi em uma curva onde
se anda a, no máximo, 50 km/h.
As falhas no atendimento começaram a ser levantadas por
uma irmã da vítima, a enfermeira Lucia Helena Giraldes,
33, que questiona ainda a qualidade da moto alugada no local.
Para ela, a prefeitura não poderia permitir a utilização de
um espaço público sem fiscalizá-lo de maneira rigorosa.
O ex-piloto Chico Rosa, que
hoje é gerente de Interlagos, diz
haver dificuldades para fiscalizar as escolas que alugam a área
para dar cursos. No total, havia
três para as aulas com motos.
"Nós fazemos as exigências
[de estrutura atendimento médico]. Por safadeza ou por falta
de dinheiro, há negligência de
algumas. A gente checa até onde dá para checar. Mas nada
impede que um médico esteja
lá quando a gente aparece e vá
embora minutos depois", diz.
Rosa, freqüentador do autódromo desde 1958 e dirigente
do local desde os anos 70, vê,
porém, a morte de Giraldes como fatalidade. "Poderia ter sido
lá ou na avenida São João."
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