São Paulo, domingo, 23 de outubro de 2005

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COPIA DA INTERNET E COLA

Colégios obrigam alunos a entregar trabalhos à mão para evitar uso de textos retirados de sites

Contra plágio, escolas exigem manuscritos

FÁBIO TAKAHASHI
DA REPORTAGEM LOCAL

Importante meio de pesquisa para os alunos, a internet também se tornou um bom instrumento para os que buscam vida fácil na escola. "Pego todos os meus trabalhos lá, nem leio. Só preciso fazer uma capa", conta Augusto, 16, que está no segundo ano do ensino médio de uma das maiores redes de colégios de São Paulo. Por que faz isso? "Preguiça", diz ele.
Vida fácil porque, com a internet popularizada, desaparece parte das centenas de alunos que se acotovelam em bibliotecas em busca de bibliografia para entregar os trabalhos. Eles migraram para as salas onde há computadores ligados na rede, uma fonte farta de futuros "trabalhos".
Casos como esse ficaram tão comuns que obrigaram as escolas a mudar a forma de cobrar os trabalhos dos alunos, para evitar a simples cópia de textos dos sites. Vale até voltar ao passado, exigindo que os alunos gastem a caneta para entregar atividades manuscritos, o popular "à mão".
Uma das escolas que adotaram tal medida foi o colégio Interlagos, na zona sul de São Paulo.
"Isso evita o simples plágio", afirma a coordenadora Ana Lucia de Carvalho Pereira. Ela diz também que os alunos precisam ter familiaridade tanto para usar o computador quanto para fazer trabalhos manuscritos. "No vestibular, eles têm de escrever à mão", lembra.
A professora Juliana Mazzeto Hessel, que leciona história para as classes da quinta à oitava série da escola, conta que muitos alunos reclamam do método. "É por isso que intercalamos com os trabalhos digitados."

Ler e entender
Mas há casos em que o próprio estudante faz a opção. A aluna da sétima série Adriana Rodrigues, 13, prefere escrever à mão. "É mais fácil, porque você vai lendo o texto e já vai escrevendo."
Outra medida tomada pela escola foi atrelar os trabalhos a outras atividades, como uma palestra. "O aluno vai precisar ter entendido o conteúdo dos textos", afirma a coordenadora.
Na Escola Estadual Ascendino Reis, na zona leste de São Paulo, alguns professores também pedem trabalhos manuscritos. "Quando é digitado, o pessoal copia mesmo", conta Fábio da Nóbrega, 15, do primeiro ano do ensino médio.
O colégio Lourenço Castanho, na zona oeste da capital paulista, é outro que cobra que alguns trabalhos sejam manuscritos.
A escola também usa um método para descobrir eventuais plagiadores contumazes.
Para as atividades digitadas os professores costumam jogar partes dos textos no Google (um dos mais populares sites de buscas) para saber se ele foi copiado.
Outra medida para evitar o que o colégio chama de "clonagem de trabalhos" foi pedir aos alunos que façam análises com base nos textos dos sites. "A ida à internet tem de ser somente uma das atividades", diz Wagner Borja, um dos coordenadores da escola.

Mudanças
O diretor da Escola de Aplicação da USP (Universidade de São Paulo), Fábio Bezerra de Brito, afirma que apenas pedir que os alunos entreguem trabalhos manuscritos é praticamente inócuo, já que pode ser uma tarefa simplesmente mecânica, sem o envolvimento intelectual.
"O aluno pode copiar e não entender nada. Talvez capte uma ou outra palavra do texto", afirma Bezerra de Brito.
Para ele, os professores têm de mostrar aos alunos os processos de uma pesquisa, já que o uso cada vez mais comum da internet também pode ter desvirtuado noções de ética sobre a autoria dos trabalhos.
"Muitos nem têm consciência de que não é certo simplesmente baixar o trabalho da internet."
Outra sugestão de Brito é que os professores acompanhem todos os processos da realização do trabalho, desde a coleta dos dados até a redação final, evitando que haja algum tipo de desvio na elaboração.

Lupa
Já o professor da Faculdade de Educação da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) Sérgio Ferreira do Amaral é enfático: "Se o professor ler o trabalho, saberá se foi ou não copiado. Dá para perceber pela linguagem", afirma Amaral. "O problema é que muitos nem lêem as atividades."
O docente da Unicamp também considera que a cobrança por trabalhos manuscritos, se for feita isoladamente, não traz resultados, pois os estudantes podem não captar as informações.
Ou seja, além de exigir o trabalho manuscrito, é necessário realizar atividades complementares, que possam ajudar o estudante a absorver os conhecimentos cobrados nesses trabalhos.


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