São Paulo, quinta-feira, 23 de outubro de 2008

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ASSIS PAIM CUNHA (1928-2008)

De rei do varejo a protagonista do escândalo Coroa-Brastel

DA SUCURSAL DO RIO

Nos anos 70, o empresário Assis Paim Cunha era considerado um dos reis do varejo. Após falir, protagonizou um dos casos mais nebulosos envolvendo política e negócios durante a ditadura militar -o polêmico Coroa-Brastel. Ele morreu ontem, no Rio, aos 80, vítima de complicações decorrentes de uma pneumonia.
Dono da rede de eletrodomésticos Brastel e de um império estimado, nos anos 70, em US$ 200 milhões, Cunha era também dono da corretora Coroa -instituição financeira com 35 mil poupadores.
Ele alegava ter sido estimulado pelo governo federal a comprar uma corretora problemática, a Laureano, em troca de benefícios nas regras adotadas para concessão de crédito a consumidor -a Brastel era líder no setor.
Segundo o empresário, a Laureano era ligada ao general Golbery do Couto e Silva, um dos homens mais poderosos do regime militar, e, por isso, a operação de socorro teria obtido aval do governo.
Mas o rombo aberto pela Laureano nas finanças do grupo teria levado Cunha à bancarrota. Em 1983, empresas e bancos do grupo Coroa-Brastel foram alvo de intervenção federal -e o processo de liquidação da companhia se arrastou por 20 anos.
O caso também foi parar na Justiça em junho de 1985, quando o então procurador-geral da República, Sepúlveda Pertence, denunciou no Supremo Tribunal Federal os ex-ministros Delfim Netto (Planejamento) e Ernane Galvêas (Fazenda) -além do próprio Cunha.
Os ex-ministros foram acusados de desvio de dinheiro público por terem autorizado, em 1981, a liberação de empréstimos a Cunha por meio da Caixa Econômica Federal.
A denúncia contra Galvêas foi rejeitada. A Câmara Federal negou licença ao STF para processar Netto (já então deputado federal). Cunha foi condenado a oito anos de prisão, mas recorreu.
Desde então, esteve envolvido com os processos judiciais decorrentes da falência. Nas últimas entrevistas, ressaltou que tinha como objetivo "limpar o nome" e "provar inocência" -e não ficaria com nenhum recurso obtido em ações de ressarcimento contra órgãos federais.
Nos últimos anos, dizia viver com uma aposentadoria de R$ 1.800 do INSS. Morava num sítio em Vassouras (RJ), onde será enterrado hoje.

obituario@folhasp.com.br



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