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ASSIS PAIM CUNHA (1928-2008)
De rei do varejo a protagonista do escândalo Coroa-Brastel
DA SUCURSAL DO RIO
Nos anos 70, o empresário
Assis Paim Cunha era considerado um dos reis do varejo.
Após falir, protagonizou um
dos casos mais nebulosos envolvendo política e negócios
durante a ditadura militar -o
polêmico Coroa-Brastel. Ele
morreu ontem, no Rio, aos 80,
vítima de complicações decorrentes de uma pneumonia.
Dono da rede de eletrodomésticos Brastel e de um império estimado, nos anos 70,
em US$ 200 milhões, Cunha
era também dono da corretora Coroa -instituição financeira com 35 mil poupadores.
Ele alegava ter sido estimulado pelo governo federal a
comprar uma corretora problemática, a Laureano, em
troca de benefícios nas regras
adotadas para concessão de
crédito a consumidor -a
Brastel era líder no setor.
Segundo o empresário, a
Laureano era ligada ao general Golbery do Couto e Silva,
um dos homens mais poderosos do regime militar, e, por
isso, a operação de socorro teria obtido aval do governo.
Mas o rombo aberto pela
Laureano nas finanças do
grupo teria levado Cunha à
bancarrota. Em 1983, empresas e bancos do grupo Coroa-Brastel foram alvo de intervenção federal -e o processo
de liquidação da companhia
se arrastou por 20 anos.
O caso também foi parar na
Justiça em junho de 1985,
quando o então procurador-geral da República, Sepúlveda
Pertence, denunciou no Supremo Tribunal Federal os
ex-ministros Delfim Netto
(Planejamento) e Ernane
Galvêas (Fazenda) -além do
próprio Cunha.
Os ex-ministros foram acusados de desvio de dinheiro
público por terem autorizado,
em 1981, a liberação de empréstimos a Cunha por meio
da Caixa Econômica Federal.
A denúncia contra Galvêas
foi rejeitada. A Câmara Federal negou licença ao STF para
processar Netto (já então deputado federal). Cunha foi
condenado a oito anos de prisão, mas recorreu.
Desde então, esteve envolvido com os processos judiciais decorrentes da falência.
Nas últimas entrevistas, ressaltou que tinha como objetivo "limpar o nome" e "provar
inocência" -e não ficaria com
nenhum recurso obtido em
ações de ressarcimento contra órgãos federais.
Nos últimos anos, dizia viver com uma aposentadoria
de R$ 1.800 do INSS. Morava
num sítio em Vassouras (RJ),
onde será enterrado hoje.
obituario@folhasp.com.br
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