São Paulo, sexta, 23 de outubro de 1998

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SAÚDE
Municípios precisam de verba federal, que não chegou a 72 cidades de SP e atrasou em outras, para combater mosquito
Verba atrasa e ameaça controle da dengue

Eduardo Knapp/Folha Imagem
Técnico mostra equipamento de combate ao mosquito da dengue; falta de verba compremete controle da epidemia no país


FABIO SCHIVARTCHE
da Reportagem Local

A lentidão na liberação das verbas repassadas pelo governo federal aos municípios para o combate à dengue está ameaçando o controle da epidemia no Brasil.
A eliminação do mosquito transmissor Aedes aegypti é a principal forma de combate à doença. Ela é feita pelos município, que precisam de tempo para, com as verbas federais, comprar equipamentos, contratar equipes e lhes dar treinamento.
O PEA (Programa de Erradicação do Aedes aegypti) começou em 1996, mas só nos últimos meses a verba está sendo distribuída pelo Ministério da Saúde.
No Estado de São Paulo, os casos da doença até setembro são quatro vezes maiores que em todo o ano de 97. No entanto, 72 cidades ainda não receberam a verba e tiveram seus trabalhos preventivos atrasados. Em outros municípios, a verba solicitada há mais de um ano chegou nas últimas semanas.
O ministério destinou ao PEA cerca de R$ 235 milhões, mas só um quarto disso chegou aos municípios em 97. E, mesmo depois do pico da epidemia deste ano, ainda há um saldo a pagar de R$ 35 milhões.
Essa lentidão possibilitou o crescimento da epidemia. No início de setembro, o número de casos no Brasil já havia passado de 476 mil -quase o dobro do total registrado em 97 (veja quadro ao lado).
O número de casos pode crescer ainda mais no final deste ano, já que é durante o verão (com temperaturas mais altas) que o mosquito se reproduz mais rápido.
Bragança Paulista, cidade paulista que não teve casos de dengue este ano, é uma das que não receberam a verba solicitada. O município corre risco de ter casos "importados" de Campinas, um dos focos da doença no Estado.
Importação que já chegou a Franca (401 km ao norte do Estado), município com 27 casos este ano -2 importados- e que sofre com a lentidão do repasse federal.
Duas pessoas infectadas que vieram de Vitória (ES) possibilitaram a transmissão da doença para outros 25 moradores da cidade.
"Apresentamos nosso projeto ao governo federal em maio de 1997, mas a primeira das cinco parcelas só chegou em agosto. Se tivesse vindo antes, poderíamos ter reduzido a população de mosquitos e, consequentemente, o número de pessoas contaminadas", diz o chefe da Vigilância Sanitária de Franca, Alexandre Augusto Ferreira.
Se a verba do ministério tivesse saído com mais agilidade, muitos casos poderiam ter sido evitados. "Não dá para calcular quantos casos a menos teríamos se a verba já tivesse chegado, mas com certeza a epidemia estaria menor, pois teríamos reduzido a população de mosquitos", diz Dalva Marli Valério Wanderley, secretária-executiva do PEA em São Paulo.
O governo federal diz que o rigor na análise dos pedidos foi um dos motivos para a lentidão no envio da verba.



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