São Paulo, sábado, 23 de novembro de 2002

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SAÚDE

Preços baixaram e o número de cirurgias aumentou

Popularização das operações plásticas preocupa especialistas

AURELIANO BIANCARELLI
ENVIADO ESPECIAL A SALVADOR

Diretores da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) estão questionando a tendência de popularização desse tipo de procedimento. Nos últimos anos, as "facilidades de pagamento", os consórcios e a concorrência entre clínicas e profissionais levaram a uma redução de preços e a um aumento no número de cirurgias.
Na quinta-feira, uma mulher morreu em Belo Horizonte, 24 horas depois de submeter-se a uma cirurgia de redução de mama. Iria pagar R$ 1.400, menos da metade do preço médio. Outro caso de morte tinha sido registrado na semana anterior.
"As pessoas precisam saber que a cirurgia plástica é um procedimento médico com custos e riscos", disse Oromar Moreira Filho, presidente da regional mineira da SBCP. Se os custos caem, os riscos aumentam. Na opinião de alguns diretores da sociedade, talvez seja preciso uma campanha lembrando que a cirurgia plástica não é para todo mundo.
Em Salvador, onde termina hoje o 39º Congresso Brasileiro de Cirurgia Plástica, os diretores da SBCP não escondiam sua preocupação. Na abertura do encontro, na quarta, o presidente da sociedade, Luiz Carlos Garcia, tinha afirmado que a política da instituição, além de rigor com os profissionais, era a de se antecipar a incidentes e exigir transparência. "Quando todos os cuidados são observados, a cirurgia plástica é de baixo risco", diz Moreira Filho.
A própria sociedade produziu um folheto ensinando "como escolher um cirurgião plástico". Uma das recomendações é que seja membro da SBCP e que seja de sua confiança ou da confiança de alguém que você conhece. Pelo telefone 0/xx/11/3826-1499 e no site www.cirurgiaplastica.org.br, a sociedade confirma se o médico tem o título de especialista.
Em Belo Horizonte, tanto o cirurgião Adalberto Pereira da Silva, 45, como a paciente que morreu, a faxineira Maria Aparecida de Oliveira, 42, estavam dentro das recomendações da sociedade. O médico é membro da SBCP, tem 22 anos de formado, já fez "dezenas" de cirurgias como essas e nunca teve problemas.
Maria de Oliveira, oficialmente, havia feito todos os exames pré-operatórios e não tinha nenhuma contra-indicação para a cirurgia.
Também conhecia pacientes que tinham se operado com o médico. "O preço que cobrei era simbólico, porque há um ano ela desejava a cirurgia", disse Adalberto Silva. O resultado da autópsia ainda não ficou pronto.
De acordo com o médico, a paciente reagiu "muito bem" durante a cirurgia. Passou a noite bem, sem alterações de pressão e de manhã sentou-se para tomar café. "Eu já preparava a prescrição para dar a alta quando começou a sentir falta de ar. Tentamos todos os recursos. Não havia razão para essa morte."


Aureliano Biancarelli viajou a convite da SBPC


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