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São Paulo, domingo, 23 de novembro de 2003

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Gastos de empresas em pesquisa e em equipamentos de segurança não conseguem barrar golpes cada vez mais audaciosos

Fraude telefônica fica mais sofisticada

ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO

Uma pesquisa, de âmbito mundial, realizada pela Associação para o Controle das Fraudes em Comunicação, dos EUA, constatou crescimento das fraudes nas áreas de atuação de 80% das companhias telefônicas, com prejuízos de US$ 35 bilhões a US$ 40 bilhões por ano para as empresas.
No Brasil, existem cerca de 10 mil inquéritos e processos judiciais envolvendo fraudes em telefonia fixa e celular. Um terço deles refere-se ao desvio de cabos dos telefones públicos para uso privado, o popular gato. Segundo as teles, há hotéis e restaurantes cinco estrelas sob investigação.
As fraudes telefônicas se sofisticam à medida em que avança a tecnologia. As indústrias de telecomunicações e as companhias telefônicas gastam muito em pesquisa e em equipamentos de segurança para tentar barrar os fraudadores, mas para cada golpe neutralizado, surge um outro, mais audacioso.
""Não há tecnologia 100% segura", disse o vice-presidente de rede e de tecnologia da Vivo, o espanhol Javier Rodriguez.
A empresa, que tem 18,5 milhões de assinantes no Brasil, não divulga a quantidade de fraudes das quais ela e os clientes são vítimas, mas admite que a clonagem é o grande problema das operadoras de celular.
Por meio de um ""scanner", os fraudadores captam, no ar, o código de registro de um celular regularmente cadastrado e os copiam em outro aparelho. Passam a fazer ligações que caem na conta do dono do telefone legítimo.
Quando o golpe é descoberto, a telefônica inabilita o aparelho, mas o rombo já está feito. Neste caso, o ônus é da companhia, já que o assinante não tem como impedir a clonagem.
As empresas monitoram os telefones, para tentar neutralizar os clones o mais rapidamente possível. Quando percebem que um aparelho fez mais ligações do que o usual, elas entram em contato com o assinante para confirmar a origem das chamadas.
Outra fraude disseminada é o uso de notas fiscais frias para a habilitação de telefones celulares roubados. Rodriguez diz que a falsificação não é percebida pelas companhias e o telefone roubado volta ao mercado ""legalizado".

Fragilidade
O Brasil possui uma rede de telefonia analógica, construída no início dos anos 90, extremamente vulnerável à clonagem e ao grampo clandestino.
""A transmissão analógica é como uma estação de rádio: basta localizar a frequência para captar os sinais", explicou o presidente da Qualcomm no Brasil, Marco Aurélio Rodrigues. A empresa, de origem norte-americana, criou a tecnologia celular digital CDMA, usada pela Vivo.
As tecnologias digitais CDMA e TDMA foram implantadas a partir de 1995. Por decisão do governo, foi mantida a rede analógica. Os telefones funcionam nas duas bandas, analógica e digital, o que os torna vulneráveis à clonagem e à escuta clandestina.
Foram os EUA que decidiram primeiro pela convivência dos sistemas analógico e digital. Os demais países seguiram a decisão.
Os europeus, ao contrário, arrancaram toda a rede analógica construída e implantaram o padrão GSM, 100% digital.
O GSM tem 930 milhões de assinantes no mundo (foi adotado no Brasil pela TIM, Oi e Claro) e, até o momento, os fraudadores não conseguiram captar o código dos assinantes pelo ar.
Segundo Oswaldo Torres Yañez, diretor de controle de fraudes da Entel (Chile), não há registro de clone ou de interceptação telefônica clandestina contra os 12 milhões de assinantes do serviço na América Latina, até agora.
No entanto, na Europa e nos Estados Unidos são vendidos equipamentos para clonagem do chip do celular GSM -o ""SIM Card"- que armazena os dados de identificação do assinante.
Há sites na internet que oferecem ""SIM Card" virgens para serem copiados e programas para clonagem, por US$ 90.
Para enfrentar a sofisticação dos fraudadores, tem sido usada a criptografia (codificação) desenvolvida pela indústria de defesa.



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