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DANUZA LEÃO
Mudanças à vista
Vou tentar, aos poucos.
Para começar, tirando do armário as coisas que com certeza não vou usar mais
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O MUNDO está mudando depressa, ultimamente, e vai
mudar mais ainda.
Quando vejo pela TV aqueles milhares de carros nos pátios das montadoras, feitos para que as pessoas
troquem o seu a cada ano, e estas à
beira da falência, fico pensando. A
quantidade de carros que já existe
no mundo não só contribui para a
poluição, como nas grandes cidades
o trânsito é caótico. Tanto que, em
algumas, como Londres, já estão cobrando pedágio para poder circular
no centro, e em outras é proibido
circular em certas áreas. E pra que
trocar de carro todo ano? De cinco
em cinco já não dava pra ser feliz? E
será que o mundo precisa de mais
carros do que já tem? Para evitar o
desemprego, as montadoras poderiam colocar seus operários recuperando carros antigos; alguém já viu
um cemitério de automóveis nos
EUA? Carros que seriam o sonho de
qualquer pessoa normal estão lá, jogados, porque já têm alguns poucos
anos de uso. E os bancos, como é que
ganham tanto dinheiro? Nunca vou
conseguir entender.
Estava olhando outro dia meu armário e vi quantas bolsas eu tenho.
São muitas. E eu por acaso preciso
de todas elas? Claro que não. E as
roupas? A rigor, durante o dia ou estou de jogging ou de jeans e camiseta, e saio tão pouco à noite que preciso de pouquíssima coisa para vestir.
Posso dar a metade do que tenho e
ficar muito feliz com a metade que
ficou. É claro que existe um ranço
dentro de mim que fica entre o
"dou-não-dou, posso me arrepender, será?" e tenho medo de um dia
chorar lágrimas de sangue por uma
blusinha preta que dei num momento de loucura.
E é aí que entra a mudança; tenho
que mudar, temos todos que mudar
com o mundo. Não há razão para eu
ter uma mesa de sala de jantar com
seis cadeiras se tenho uma diarista
que vem três vezes por semana e vai
embora às 4h da tarde; eu não sei cozinhar, não pretendo aprender, nem
convidar ninguém para jantar. Qual
o sentido de ter essa mesa? Não seria
melhor mudar para um quarto-e-sala? Estaria sem dúvida mais de acordo com a minha realidade.
Vou tentar, aos poucos. Para começar, tirando do armário as coisas
que definitivamente não vou usar
mais. E é pra já. Daqui a pouco eu
acabo a coluna.
Vinte minutos se passaram, e nesse
tempo, fiz uma limpeza. Não uma
completíssima, mas bem razoável. É
muito fácil dar conselhos aos outros,
quando chega nossa hora, é tudo difícil. Ainda tenho coisas sobrando,
mas meus sapatos ficam. Sou louca
por eles e mesmo que não use nunca
mais na vida, quero saber que eles
estão ali, bem pertinho, ao menos
para eu olhar. Quem vai ficar feliz é
minha diarista. Vai ficar com tudo,
mas com uma condição: que ela leve
tudo amanhã mesmo, antes que eu
me arrependa.
Muita coisa já foi: outro dia chamei duas amigas e botei em cima da
mesa -para isso, pelo menos, ela (a
mesa) serviu- todos os copos e louça que eu tinha sobrando e que não
usaria nunca mais; até porque, se
enlouquecer e resolver dar um jantar, o bufê traz tudo, da colherzinha
de café à travessa, e quem mora só
não precisa de mais do que seis copos, seis pratos, enfim, seis de cada
coisa, e pronto.
Ainda estou longe da grande mudança: passar pelas lojas e não ter
vontade de comprar rigorosamente
nada. Mas estou perto: não agüento
mais ouvir falar em moda -logo eu,
que adorava-, e se me convidam para um desfile, eu quase morro. Aliás,
meu problema não é só com a moda,
é com tudo o que está na moda e que
todo mundo segue, sejam restaurantes, cidades, carros, bebidas, comidas etc.
Estou precisando ter coragem
para mudar para o quarto-e-sala,
mas chego lá. Até porque adoro uma
mudança.
danuza.leao@uol.com.br
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