São Paulo, domingo, 23 de dezembro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Árvores-de-natal "nascem" no extremo sul de São Paulo

20 produtores se dedicam ao cultivo do pinheiro no bairro de Colônia Paulista

Queda nas vendas, de 30% só neste ano, é atribuída às árvores de plástico, que duram vários Natais; as naturais só resistem 20 dias

Rogerio Cassimiro/Folha Imagem
Agricultor poda pinheiro em plantação na região de Parelheiros


FILIPE MARCEL
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

"Hoje as pessoas preferem árvores de plástico, aquela coisa morta no meio da sala", lamenta o agricultor Maurício Bueno, 50, enquanto esfrega com as mãos um punhado de folhas arrancadas do pinheiro conhecido pelo nome de "tuia maçã", plantado no começo deste ano em seu sítio de 20 hectares (200 mil m2).
Bueno faz parte de um grupo de 20 produtores que transformaram Colônia Paulista, no extremo sul da capital, no bairro das árvores-de-natal. Por lá crescem hoje cerca de 15 espécies diferentes de tuia -algumas chegam a atingir três metros de altura e podem custar até R$ 2.000-, comercializadas, todos os anos, de 15 de novembro a 23 de dezembro.
São quilômetros de plantação de tuia prata (aquelas que parecem estar recobertas de neve), de tuia europa (dourada) e de tuia maçã -cujo aroma é semelhante ao da fruta. Algumas podem levar até seis anos para ganhar altura.
"Isso que é natureza. Parece que a gente plantou a árvore com uma maçã no mesmo buraco", compara o produtor.
Neste Natal, Bueno, que é o maior produtor da região, vendeu 4.000 árvores -os preços variam de R$ 10 a R$ 2.000. "Já teve Natal que a gente colheu 20 mil árvores e conseguiu vender todas. Neste ano, infelizmente, tivemos uma queda de 30% nas vendas em relação ao ano passado [cerca de 1.500 árvores serão jogadas no lixo]."
Geraldo Pereira dos Santos, 34, que deixou uma fazenda de criação de gansos para se dedicar às árvores natalinas, também lamenta a queda na procura. "Este, sem dúvida, foi o pior ano para as árvores-de-natal naturais", diz ele, descarregando 50 árvores trazidas de volta no caminhão que partiu logo cedo levando 200.
A culpa, dizem eles, é das árvores chinesas, as de plástico, que custam muito menos do que as naturais e duram vários Natais. As produzidas em Colônia não resistem a 20 dias, mesmo com todos os cuidados. "Se a pessoa comprar muito antes do Natal é claro que ela vai precisar comprar outra árvore. Mas pouca gente sabe disso. Todo mundo acha que o pinheiro bom dura para sempre. Não é bem assim."
"As pessoas perderam o gosto pelas árvores-de-natal naturais porque essas que estão sendo vendidas nas ruas geralmente são colocadas em vasos pequenos. Isso acaba diminuindo o tempo de vida delas", ressalta Bueno. No vaso pequeno e sem iluminação, ela vive em torno de cinco dias.
Ele, que 23 anos atrás trocou sua plantação de verduras e legumes pelo cultivo de árvores-de-natal, acabou se tornando um dos maiores produtores de Colônia e fornece para a Ceagesp (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo) e para as centrais de abastecimento de Campinas e de São José dos Campos.
Mariana Feliciano, 13, filha de Maurício Bueno, diz que pretende suceder o pai nos negócios. Ela faz parte do Jeca (Jovens Empreendedores de Colônia Alemã) e, assim como o resto da família, quer manter vivo o cultivo de árvores-de-natal em Colônia Paulista.
"Árvore de plástico não é a mesma coisa. É preciso manter o sítio e a cultura vivos. Minha irmã mais velha já cursa administração e eu quero aprender a falar alemão para não perder a nossa identidade", diz.
Mesmo com todo esse prejuízo, os 40 mil habitantes de Colônia Paulista prometem fazer festa amanhã, quando acaba a temporada de colheita dos pinheiros. No Jeca, serão distribuídos presentes à comunidade carente.

Meteorito
Colonizado por alemães, o bairro, no distrito de Parelheiros, fica entre uma reserva de índios guaranis e a cratera de 3,64 km de diâmetro formada, segundo geólogos, pela queda de um meteorito há 36,3 milhões de anos.
Além das árvores-de-natal, que têm apenas uma colheita ao ano, também são produzidas algumas raridades do paisagismo, como a concorrida kaizuca -de origem japonesa, que pode custar até R$ 2.000 - e o tradicional buxinho -plantas ornamentais, podadas geralmente em formato de bola.
"O clima aqui é excelente. Tem muita umidade no ar e as plantas crescem muito bem", acrescenta Bueno.


Texto Anterior: David Feldman e o terno do garotinho
Próximo Texto: Compras de Natal: Rua 25 de Março recebe 1 milhão de pessoas, segundo a GCM
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.