São Paulo, quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

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Professora de artes é primeira morta em enchente neste verão

LAURA CAPRIGLIONE
DE SÃO PAULO

A professora de artes Michele Borges, 29, transformou-se na madrugada de ontem na primeira vítima fatal das enchentes do verão 2010-2011 na cidade de São Paulo.
Michele morava com a mãe, Neide Rizzo, no 6º andar do Condomínio Projeto das Américas. Trata-se de um conjunto de 14 prédios (476 apartamentos) assentados sobre a várzea do córrego Ponte Baixa, que corre paralelamente à Estrada do M'Boi Mirim, zona sul da cidade.
Por volta das 23h da anteontem, quando começou a cair a chuvarada, Michele, que estava trabalhando no computador, levantou-se para checar o nível do córrego.
Os moradores do prédio já sabiam: em caso de precipitações muito fortes, o estacionamento se enchia de água. Muitos desciam para reposicionar seus veículos, de modo a salvá-los, tanto quanto possível, das águas.
Mas a chuva de terça surpreendeu. Em 15 minutos, o córrego já subira tanto que extravasara um dique de contenção -água, lama e lixo (muito lixo) foram jogados diretamente no estacionamento, transformado em piscina com 80 centímetros de profundidade.
Cerca de 100 carros começaram a boiar e a entrechocar-se. Trinta moradores desceram para o térreo. Encharcados, tentavam imobilizar aquelas naus sem rumo. Logo, um vizinho teve a ideia de usar as mangueiras de incêndio como cordas, para atracar os carros a algo sólido.
O carro de Michele era um Fiat Mille Fire Branco. Ela também desceu para tentar salvar o carro. A mãe, Neide, ainda tentou impedi-la.
Mas Michele foi. A professora empurrava seu Fiat para um porto seguro, como os outros faziam. Mas aí um dos muros do estacionamento rompeu-se. Com a força da água, o Uno adernou. A professora agarrou-se ao porta-malas, gritando por ajuda.
Os moradores ainda tentaram lançar uma das cordas de mangueira para ela. Sem sucesso. De repente, Michele soltou as mãos. Sugada para baixo do carro, desapareceu.
O corpo, cheio de arranhões, foi encontrado perto de uma garagem de ônibus, a 2 km do condomínio onde a professora vivia.
O irmão de Michele, Leandro, 32, disse que a professora estava vivendo um momento de grande felicidade.
"Ela tinha conseguido passar no concurso do Estado. Ia dar aulas de Artes na Escola Estadual Vicente Leporace, aqui perto, onde estudou", disse Leandro.


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