São Paulo, quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

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Bando invade hospital e resgata traficante

Criminoso foi retirado de hospital no Rio por 30 homens armados, alguns disfarçados de policiais; médicos e pacientes foram roubados

PMs que faziam a escolta não estavam na porta do quarto; durante a ação, cerca de 190 pessoas estavam internadas no local

ITALO NOGUEIRA
DA SUCURSAL DO RIO

Um grupo de cerca de 30 criminosos cercou ontem o hospital Carlos Chagas, em Marechal Hermes, zona norte do Rio, para resgatar um traficante internado no local. Vestidos com coletes semelhantes aos da polícia e roupas camufladas, renderam policiais, vigias e médicos em uma ação que durou cerca de 15 minutos.
A polícia desconhecia até anteontem a "importância" do traficante custodiado no hospital, ferido há uma semana, em uma troca de tiros com um policial no Méier. Apenas dois policiais militares faziam a guarda de Marcos Antônio Oliveira da Silva, 25, o Negão. A possível participação dos PMs no resgate será investigada.
Em depoimento, um dos PMs responsáveis por sua custódia afirmou que descobriu a "importância" de Negão anteontem e pediu reforço.
A polícia disse ter identificado cinco suspeitos de participação na fuga. Um adolescente de 17 anos foi morto durante uma operação da PM no morro da Serrinha, favela na qual Negão atuaria. Os outros quatro não haviam sido encontrados até a conclusão desta edição.
Para realizar o resgate, cerca de 30 homens desembarcaram de carros e motos na portaria da emergência do hospital por volta das 4h30. Eles cercaram o local e anunciaram a ação.
Cinco homens renderam um policial militar na cantina da unidade. Ele havia acabado de chegar para levar um preso ferido e não fazia a escolta do homem resgatado. Ele foi obrigado pelos criminosos a guiar o grupo até o quarto onde se encontrava o criminoso. Seu companheiro de ronda permaneceu no carro, também sem reação.
"Um [criminoso] chegou a sugerir que o PM [rendido] fosse morto, mas outro disse: "Nada disso. Viemos pegar o cara e só'", disse um homem que testemunhou a ação e pediu para não ser identificado.
Os dois PMs que faziam a escolta de Negão não estavam na porta do quarto, de acordo com o diretor do hospital Aramis Costa Filho. "O que eles poderiam fazer com vários bandidos armados de fuzil? Poderiam até ferir um paciente", disse o delegado da 30ª DP (Marechal Hermes), Hércules Nascimento.
"Os policiais vão ter que esclarecer isso perante a Corregedoria. Pode ter havido conivência, não resta dúvida. Nós teríamos dois PMs, o que, em tese, para uma ação [como essa], não deixa de ser pouco", afirmou o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame.
Até chegar ao quarto do traficante, os bandidos abriram o cadeado de dois portões a tiros de fuzil. A algema foi aberta da mesma forma. Durante a ação, cerca de 190 pessoas estavam internadas no hospital. Os bandidos que permaneceram fora do prédio assaltaram médicos, pacientes e uma cantina.
Oliveira da Silva foi preso no dia 16 em uma tentativa de assalto a um PM à paisana na no Méier (zona norte). A vítima reagiu e Negão foi baleado no abdômen e preso. Nascimento afirmou que Negão seria "braço direito" de Marcelo da Silva Batista, 33, chefe do tráfico de drogas nos morros da Serrinha e do Cajueiro, em Madureira.


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