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CARNAVAL
Integrantes do bloco Tricolor Independente, formado por são-paulinos, entraram em confronto com corintianos e palmeirenses
Três morrem em confrontos de torcidas
André Sarmento/Folha Imagem
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Ruy Luciano Nogueira, carnavalesco do bloco Pavilhão 9, é enterrado no cemitério Memorial Parque Paulista, na cidade de Embu |
DO "AGORA"
DA REPORTAGEM LOCAL
O desfile de blocos do Carnaval
de São Paulo, anteontem à noite,
foi marcado por dois confrontos
em que morreram três pessoas.
Segundo a polícia, outras seis ficaram feridas, cinco delas à bala.
Os confrontos começaram pouco antes das 22h de sábado, na
concentração para o desfile do
grupo especial de blocos carnavalescos, no Sambódromo do
Anhembi (zona norte da capital).
Prestes a desfilar, integrantes do
bloco Tricolor Independente, formado por torcedores são-paulinos, atacaram corintianos do bloco Pavilhão 9. Ruy Luciano Nogueira, 25, da Pavilhão, morreu
com um tiro na cabeça.
Testemunhas disseram que cerca de dez corintianos foram atacados por uma centena de tricolores, armados com revólveres e
paus. "Vi um homem baleado ser
espancado, no chão, por dez torcedores do São Paulo", disse o
major Ricardo de Souza Ferreira,
do 9º Batalhão da PM.
O presidente do bloco Pavilhão
9, Alex Sandro Salmazo, sofreu
um ferimento de raspão na cabeça -ele não sabe se foi um tiro-
e teve seu carro Golf destruído.
Salmazo disse que a morte de
Nogueira provocará o fim do bloco. "Eu e ele éramos a mente pensante do Pavilhão. A nossa resposta para essa tragédia será a
paz", afirmou.
Cláudio Cassiano Freguglia, 31,
T.P.O., 16, e Cássio Terayama, 23,
foram baleados na perna. O corintiano Olavo José Teodoro, 27,
teve os braços quebrados.
Já o tricolor Itamar Fagundes
dos Santos, 20, levou um tiro na
perna. O delegado Luiz Antonio
Ribeiro Longo, da Deatur (Delegacia de Atendimento ao Turista),
não descarta a hipótese de que ele
tenha sido baleado, acidentalmente, por um colega.
Pouco depois do tumulto, a Independente fez seu desfile. "Quero paz e amor", dizia o refrão do
samba. Em homenagem ao amigo
morto, os corintianos desfilaram
em silêncio.
Depois do desfile, a Independente saiu em vários ônibus, escoltados pela PM na parte inicial
do trajeto. Às 23h30, dois ônibus
pararam na avenida Marquês de
São Vicente, na Barra Funda, ao
passar por dez palmeirenses que
iam à quadra da escola Mancha
Alviverde. Lá, 8.000 pessoas escolhiam sua rainha de bateria e
aguardavam shows do cantor Belo e do grupo Casa Nossa.
O motorista Mauro Ginu dos
Santos, 41, da viação Vianorte,
disse que os tricolores o obrigaram a parar. Na briga que se seguiu, duas pessoas foram espancadas até a morte: o palmeirense
Mauro Roberto Costa, 24, e Dhiógenes Ventura, 20, cujo time a polícia desconhece.
Dois palmeirenses correram até
a quadra e chamaram a PM.
Quando a polícia chegou, encontrou Costa jogado no chão e sem
roupa. Sua carteira estava em um
dos ônibus. Cerca de 60 são-paulinos foram levados para o 23º DP
(Perdizes). Foram apreendidos
dez cabos de enxada e um pedaço
de madeira com pregos.
Carlos André Amorosino Júnior, 28, ex-presidente da Independente, foi preso em flagrante,
acusado de matar o palmeirense.
Ele negou o crime à polícia. Outro
membro da torcida foi detido
com 45 gramas de maconha.
A Deatur, que investigava o incidente no Anhembi e apreendeu
dois revólveres, acredita que
Amorosino Júnior seja também o
autor dos disparos no local. A reportagem não conseguiu localizar
ontem nenhum dirigente da Tricolor Independente.
Vítima
Ruy Luciano Nogueira trabalhava como tatuador em um ateliê
próprio no Butantã, zona oeste de
São Paulo. Familiares e amigos
presentes no enterro, no Embu,
região metropolitana de São Paulo, o definiram como um jovem
tranquilo, que era apaixonado pelo bloco Pavilhão 9, do qual era
carnavalesco havia cinco anos.
O percussionista Cássio Terayano estava do lado de Nogueira
quando ele foi atingido. "Ele chegaram e já começaram a provocar", disse Terayano, também baleado na perna.
(FAUSTO SALVADORI FILHO, RAQUEL COZER E SÉRGIO DURAN)
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