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São Paulo, segunda-feira, 24 de fevereiro de 2003

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CARNAVAL

Integrantes do bloco Tricolor Independente, formado por são-paulinos, entraram em confronto com corintianos e palmeirenses

Três morrem em confrontos de torcidas

André Sarmento/Folha Imagem
Ruy Luciano Nogueira, carnavalesco do bloco Pavilhão 9, é enterrado no cemitério Memorial Parque Paulista, na cidade de Embu


DO "AGORA"
DA REPORTAGEM LOCAL

O desfile de blocos do Carnaval de São Paulo, anteontem à noite, foi marcado por dois confrontos em que morreram três pessoas. Segundo a polícia, outras seis ficaram feridas, cinco delas à bala.
Os confrontos começaram pouco antes das 22h de sábado, na concentração para o desfile do grupo especial de blocos carnavalescos, no Sambódromo do Anhembi (zona norte da capital).
Prestes a desfilar, integrantes do bloco Tricolor Independente, formado por torcedores são-paulinos, atacaram corintianos do bloco Pavilhão 9. Ruy Luciano Nogueira, 25, da Pavilhão, morreu com um tiro na cabeça.
Testemunhas disseram que cerca de dez corintianos foram atacados por uma centena de tricolores, armados com revólveres e paus. "Vi um homem baleado ser espancado, no chão, por dez torcedores do São Paulo", disse o major Ricardo de Souza Ferreira, do 9º Batalhão da PM.
O presidente do bloco Pavilhão 9, Alex Sandro Salmazo, sofreu um ferimento de raspão na cabeça -ele não sabe se foi um tiro- e teve seu carro Golf destruído.
Salmazo disse que a morte de Nogueira provocará o fim do bloco. "Eu e ele éramos a mente pensante do Pavilhão. A nossa resposta para essa tragédia será a paz", afirmou.
Cláudio Cassiano Freguglia, 31, T.P.O., 16, e Cássio Terayama, 23, foram baleados na perna. O corintiano Olavo José Teodoro, 27, teve os braços quebrados.
Já o tricolor Itamar Fagundes dos Santos, 20, levou um tiro na perna. O delegado Luiz Antonio Ribeiro Longo, da Deatur (Delegacia de Atendimento ao Turista), não descarta a hipótese de que ele tenha sido baleado, acidentalmente, por um colega.
Pouco depois do tumulto, a Independente fez seu desfile. "Quero paz e amor", dizia o refrão do samba. Em homenagem ao amigo morto, os corintianos desfilaram em silêncio.
Depois do desfile, a Independente saiu em vários ônibus, escoltados pela PM na parte inicial do trajeto. Às 23h30, dois ônibus pararam na avenida Marquês de São Vicente, na Barra Funda, ao passar por dez palmeirenses que iam à quadra da escola Mancha Alviverde. Lá, 8.000 pessoas escolhiam sua rainha de bateria e aguardavam shows do cantor Belo e do grupo Casa Nossa.
O motorista Mauro Ginu dos Santos, 41, da viação Vianorte, disse que os tricolores o obrigaram a parar. Na briga que se seguiu, duas pessoas foram espancadas até a morte: o palmeirense Mauro Roberto Costa, 24, e Dhiógenes Ventura, 20, cujo time a polícia desconhece.
Dois palmeirenses correram até a quadra e chamaram a PM. Quando a polícia chegou, encontrou Costa jogado no chão e sem roupa. Sua carteira estava em um dos ônibus. Cerca de 60 são-paulinos foram levados para o 23º DP (Perdizes). Foram apreendidos dez cabos de enxada e um pedaço de madeira com pregos.
Carlos André Amorosino Júnior, 28, ex-presidente da Independente, foi preso em flagrante, acusado de matar o palmeirense. Ele negou o crime à polícia. Outro membro da torcida foi detido com 45 gramas de maconha.
A Deatur, que investigava o incidente no Anhembi e apreendeu dois revólveres, acredita que Amorosino Júnior seja também o autor dos disparos no local. A reportagem não conseguiu localizar ontem nenhum dirigente da Tricolor Independente.

Vítima
Ruy Luciano Nogueira trabalhava como tatuador em um ateliê próprio no Butantã, zona oeste de São Paulo. Familiares e amigos presentes no enterro, no Embu, região metropolitana de São Paulo, o definiram como um jovem tranquilo, que era apaixonado pelo bloco Pavilhão 9, do qual era carnavalesco havia cinco anos.
O percussionista Cássio Terayano estava do lado de Nogueira quando ele foi atingido. "Ele chegaram e já começaram a provocar", disse Terayano, também baleado na perna.
(FAUSTO SALVADORI FILHO, RAQUEL COZER E SÉRGIO DURAN)

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