São Paulo, terça-feira, 24 de fevereiro de 2004

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CARNAVAL

Escola dissidente da azul-e-branco canta samba da concorrente vencedor do Carnaval de 1984; chuva prejudicou Porto da Pedra

Tradição faz homenagem à mãe Portela

Tuca Vieira/Folha Imagem
Integrante da escola de samba Tradição, que, em clima de nostalgia, empolgou o público no segundo dia de desfiles do Rio com um samba-enredo da Portela, de 1984


DA SUCURSAL DO RIO E
DOS ENVIADOS ESPECIAIS AO RIO

A nostalgia invadiu o Carnaval do Rio no desfile que abriu ontem a segunda noite do Grupo Especial. A Tradição, formada por sambistas dissidentes da Portela, homenageou a escola-mãe levando de volta à avenida o enredo portelense "Contos de Areia", co-vencedor do campeonato de 1984.
Quando o desfile começou, com 20 minutos de atraso por causa da chuva, o público nas arquibancadas cantou com vontade o refrão: "Okê Okê Oxóssi/ faz nossa gente sambar/Okê Okê Natal/Portela é canto no ar". O túnel do tempo só não foi completo porque o samba foi executado com um andamento muito mais rápido do que há 20 anos, para se adaptar ao ritmo de marcha dos desfiles atuais.
Em 1984, o politicamente correto passava longe do samba. "Contos de Areia" é uma homenagem a personalidades portelenses, entre eles o bicheiro Natalino José do Nascimento, o Natal, fundador da Portela, morto em 1974.
Para lembrar Natal, que não tinha um braço, os diretores da escola desfilaram com um dos braços escondido dentro do paletó branco. Um dos carros alegóricos representava o bingo, jogo proibido pelo presidente Lula, por causa do caso Waldomiro Diniz.
"O jogo do bicho é algo tradicional, folclórico. É uma coisa menor diante de tanta maracutaia que existe neste país", disse Milton Gonçalves, ator que representou Natal no desfile. Milton já havia vivido o bicheiro no cinema. O atual presidente da Tradição, Nésio Nascimento, é filho de Natal.
Interpretando a sambista Clara Nunes, a escola trouxe a transformista Paula Braga. "Ela é minha vida. Estou superemocionada. Estou preparando um show sobre a vida dela", afirmou.
No carro abre-alas, veio a águia da Portela e o nome da escola de Madureira, no lugar do condor da Tradição, fundada há 20 anos. O desfile marcou a reconciliação das duas agremiações.
A mais prejudicada pela chuva no sambódromo foi a segunda escola a desfilar, a Porto da Pedra, com um enredo sobre o envio de mensagens através da história, dos tambores à internet.
A escola de São Gonçalo (região metropolitana do Rio) veio luxuosa, mas muitos adereços de plumas murcharam. Fantasias ficaram manchadas; as barras das saias cor-de-rosa das baianas, sujas de lama. Mesmo assim, o público aplaudiu a passagem dos ritmistas fantasiados de são Jorge, protetor de todos os barracões das escolas de samba.
A onda nostálgica iniciada com a Portela, que reeditou um enredo de 1970 (leia texto na pág. C2), ainda daria o tom na madrugada de hoje. O Império Serrano, quarta a desfilar, reapresentaria o samba-enredo de 1964, "Aquarela do Brasil". A Viradouro também repetiria um de 1975 sobre o Círio de Nazaré, tomado emprestado da Unidos de São Carlos (atual Estácio de Sá). (PEDRO SOARES, TALITA FIGUEIREDO, FERNANDA MENA e PEDRO DIAS LEITE)


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