São Paulo, domingo, 24 de fevereiro de 2008

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Britânicos avaliam seleção prévia no Brasil

Sistema permite que agentes de imigração do Reino Unido rejeitem embarque de suspeitos já em aeroportos brasileiros

Brasil rechaça a idéia da pré-seleção dos viajantes, afirmando que se trataria de ingerência britânica em assuntos brasileiros

DE LONDRES

O governo britânico pressiona as autoridades diplomáticas do Brasil, segundo apurou a Folha, a permitir a ação de funcionários do seu país ainda em solo brasileiro, selecionando nos aeroportos quem pode e quem não pode embarcar para o Reino Unido. São os chamados ALOs (Airline Liaison Officers), que já atuam para o serviço de imigração britânico em mais de 30 países.
"Sondagens", diz um diplomata brasileiro, foram feitas em Brasília e diretamente nas representações diplomáticas do Brasil no Reino Unido.
O Brasil rechaça a idéia da pré-seleção dos viajantes, afirmando que se trataria de ingerência britânica em assuntos que devem ser de competência das autoridades brasileiras.
Os britânicos, em uma forma de retaliação, caso o Brasil não permita a atuação dos ALOs, ameaçam então com a possibilidade de virem a exigir visto de turista para os brasileiros.
Por sua vez, o Itamaraty responde com sua política de reciprocidade -ou seja, o Brasil se sentiria à vontade para aplicar, nesse caso, a mesma exigência de visto para os britânicos.
Segundo esse diplomata, as autoridades locais têm um argumento "forte" no caso do grande número de brasileiros sendo parados em aeroportos e mandados de volta ao país: a enorme comunidade ilegal brasileira no Reino Unido.
Essa comunidade cresceu porque muitos brasileiros chegam ao país com vistos de estudante ou alegando razões de turismo para depois aqui permanecerem sem autorização.
Além disso, se tanta gente consegue passar pela imigração, os britânicos podem argumentar que não estão sendo, de fato, demasiadamente severos.
A preocupação com ilegais se mostra no tipo de questionamento feito a brasileiros ao aportarem em Londres ou em outra grande cidade inglesa.
Os funcionários da imigração pedem informações sobre a condição financeira do viajante. Um exemplo: Daniel Peixoto, 23, que é vocalista da banda Montage e vinha em novembro passado para uma série de apresentações de divulgação em Londres, foi imediatamente questionado sobre o volume de recursos que carregava. Ele afirma que sua carteira foi aberta e seu dinheiro, contado.
Após ser detido, questionaram sobre o trabalho e a condição financeira de seus pais. "Falaram que a minha mãe era pobre porque era funcionária pública no Brasil, que eles sabiam que funcionários públicos não ganham bem no Brasil."
Peixoto afirma que chegaram a lhe perguntar, durante o interrogatório, se o verdadeiro motivo da sua visita não era a intenção de se prostituir na capital da Inglaterra.
"Perguntaram muitas vezes a respeito de prostituição, se eu tinha ido lá para fazer isso. Eles foram direto a esse ponto. Eu achei, no início, que eles estivessem me confundindo com alguém", lembra o músico.
(RAFAEL CARIELLO)


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