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Britânicos avaliam seleção prévia no Brasil
Sistema permite que agentes de imigração do Reino Unido rejeitem embarque de suspeitos já em aeroportos brasileiros
Brasil rechaça a idéia da pré-seleção dos viajantes, afirmando que se trataria
de ingerência britânica em assuntos brasileiros
DE LONDRES
O governo britânico pressiona as autoridades diplomáticas
do Brasil, segundo apurou a Folha, a permitir a ação de funcionários do seu país ainda em solo brasileiro, selecionando nos
aeroportos quem pode e quem
não pode embarcar para o Reino Unido. São os chamados
ALOs (Airline Liaison Officers), que já atuam para o serviço de imigração britânico em
mais de 30 países.
"Sondagens", diz um diplomata brasileiro, foram feitas
em Brasília e diretamente nas
representações diplomáticas
do Brasil no Reino Unido.
O Brasil rechaça a idéia da
pré-seleção dos viajantes, afirmando que se trataria de ingerência britânica em assuntos
que devem ser de competência
das autoridades brasileiras.
Os britânicos, em uma forma
de retaliação, caso o Brasil não
permita a atuação dos ALOs,
ameaçam então com a possibilidade de virem a exigir visto de
turista para os brasileiros.
Por sua vez, o Itamaraty responde com sua política de reciprocidade -ou seja, o Brasil se
sentiria à vontade para aplicar,
nesse caso, a mesma exigência
de visto para os britânicos.
Segundo esse diplomata, as
autoridades locais têm um argumento "forte" no caso do
grande número de brasileiros
sendo parados em aeroportos e
mandados de volta ao país: a
enorme comunidade ilegal brasileira no Reino Unido.
Essa comunidade cresceu
porque muitos brasileiros chegam ao país com vistos de estudante ou alegando razões de turismo para depois aqui permanecerem sem autorização.
Além disso, se tanta gente
consegue passar pela imigração, os britânicos podem argumentar que não estão sendo, de
fato, demasiadamente severos.
A preocupação com ilegais se
mostra no tipo de questionamento feito a brasileiros ao
aportarem em Londres ou em
outra grande cidade inglesa.
Os funcionários da imigração
pedem informações sobre a
condição financeira do viajante. Um exemplo: Daniel Peixoto, 23, que é vocalista da banda
Montage e vinha em novembro
passado para uma série de
apresentações de divulgação
em Londres, foi imediatamente
questionado sobre o volume de
recursos que carregava. Ele
afirma que sua carteira foi
aberta e seu dinheiro, contado.
Após ser detido, questionaram sobre o trabalho e a condição financeira de seus pais.
"Falaram que a minha mãe era
pobre porque era funcionária
pública no Brasil, que eles sabiam que funcionários públicos
não ganham bem no Brasil."
Peixoto afirma que chegaram
a lhe perguntar, durante o interrogatório, se o verdadeiro
motivo da sua visita não era a
intenção de se prostituir na capital da Inglaterra.
"Perguntaram muitas vezes a
respeito de prostituição, se eu
tinha ido lá para fazer isso. Eles
foram direto a esse ponto. Eu
achei, no início, que eles estivessem me confundindo com
alguém", lembra o músico.
(RAFAEL CARIELLO)
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