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Procura por serviço de cremação cresce no país
No crematório da Vila Alpina, demanda dobrou
RICARDO WESTIN
DA REPORTAGEM LOCAL
Em Porto Alegre, a aposentada Anna Maria Teixeira, 66, já
deixou praticamente tudo
acertado para o dia em que
"vier a faltar". Ela já está pagando sua própria cremação. O serviço será prestado por um crematório particular da cidade,
que dividiu o pagamento em 60
parcelas de R$ 40.
"Quando morrer, quero que
minhas cinzas sejam jogadas
no jardim do crematório. Uma
coisinha simples e respeitosa.
Não quero deixar para as pessoas o compromisso de limpar
o túmulo, visitar em Finados,
pagar taxas de cemitério."
A aposentada gaúcha é exemplo de um movimento recente
que pode ser sentido em diversas regiões do Brasil. Aos poucos, o enterro em cemitério está deixando de ser o destino natural dos brasileiros mortos.
No Crematório da Vila Alpina, que fica em São Paulo e é o
maior do país, a procura quase
que dobrou ao longo dos últimos dez anos. Em 1998, o local
fez cerca de 2.900 cremações.
No ano passado, perto de 5.300.
Inaugurado em 1974, o Crematório da Vila Alpina foi o
único do Brasil por mais de
duas décadas. A demanda cresceu, e esse tipo de serviço começou a se espalhar. Os brasileiros podem hoje contratar 23
crematórios, em 11 Estados.
"O crescimento da cremação
no Brasil é evidente e não tem
volta", afirma Celso Jorge Caldeira, superintendente do Serviço Funerário de São Paulo.
Declaração em cartório
Para ser cremada, a pessoa
precisa ter deixado uma declaração reconhecida em cartório
e assinada por testemunhas.
Caso isso não tenha sido feito,
só parentes em primeiro grau
podem autorizar a cremação.
Assim como nos sepultamentos, o corpo pode ser velado. Os crematórios oferecem
ainda uma cerimônia rápida de
despedida, religiosa ou não,
diante do caixão. Depois, numa
área à qual só funcionários têm
acesso, a cremação é feita em
fornos com temperaturas que
ultrapassam 1.000ºC.
A queima demora cerca de
duas horas, e o que resta são pedaços de ossos. Esses restos são
reduzidos a pó por potentes trituradores. As famílias recebem
as cinzas dentro de urnas. Algumas pessoas guardam as cinzas.
Outras preferem lançá-las em
algum lugar especial.
Das grandes religiões, o judaísmo e o islamismo proíbem
a cremação. A Igreja Católica,
que já condenou, hoje aceita esse procedimento.
Os motivos que levam à cremação são muito íntimos. Mas,
de maneira geral, de acordo
com especialistas, os brasileiros estão se desfazendo da impressão de que reduzir o corpo
a cinzas significa apagar completamente a lembrança do ente morto.
"As pessoas estão mais flexíveis. Hoje vêem que podem fazer seus rituais mesmo sem um
corpo", diz a psicóloga Maria
Helena Franco, do Laboratório
de Luto da PUC-SP.
"O vínculo deixa de ser físico
e passa a ser simbólico. As pessoas estão trocando o túmulo
pelas lembranças", acrescenta
José Elias Flores Jr., do Grupo
Cortel, que tem três crematórios no Rio Grande do Sul.
Três crematórios devem ser
inaugurados nos próximos meses no país, segundo o Sindicato
dos Cemitérios e Crematórios
Particulares do Brasil. Ainda
neste ano, o da Vila Alpina
comprará mais dois fornos, duplicando sua capacidade.
Apesar de crescente, a cremação ainda é tímida no Brasil.
Na cidade de São Paulo, segundo o Serviço Funerário Municipal, 7% dos corpos são cremados, muito longe dos 75% da
Suíça e dos 98% do Japão.
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