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LUIZA GURJÃO FARIAS (1915-2010)
A luta para achar um filho desaparecido
ESTÊVÃO BERTONI
DA REPORTAGEM LOCAL
Um dos filhos de dona Luiza Gurjão Farias chamava-se
Bergson, rapaz apaixonado
por Noel Rosa, craque no
basquete e estudante de química da federal do Ceará.
Era um menino maravilhoso, nas palavras da mãe.
Certa vez, estudando à porta
de casa, ele foi abordado por
um homem que dizia precisar de dinheiro, pois a mulher estava hospitalizada, necessitando de sangue.
Bergson lhe respondeu:
"Eu também não tenho dinheiro, mas tenho sangue". E
foi dali ao hospital doá-lo.
Para Luiza, o que restou do
filho foram fotos e recordações como essa, que ela revelou recentemente num depoimento em vídeo. No fim
dos anos 60, o jovem saiu de
casa, sem dizer seu destino, e
a mãe nunca mais o viu.
Em 1972, aos 25 anos, ele
foi morto durante a guerrilha
do Araguaia, e enterrado no
cemitério de Xambioá (TO).
Seus restos mortais foram
achados em 1996, mas só reconhecidos no ano passado.
Segundo os dirigentes do
PC do B Benedito Bizerril e
Carlos Diógenes, que militaram com Bergson, Luiza resistiu por anos a aceitar a
morte do filho e nunca desistiu de reencontrá-lo.
Em outubro último, 37
anos após o acontecido, ela
finalmente o enterrou, junto
ao marido, e disse à TV se
sentir confortada por ganhar
um local onde poderia rezar
e acender uma vela para ele.
No domingo, ela morreu
aos 95, de problemas cardíacos, e foi enterrada ontem,
em Fortaleza, com Bergson.
coluna.obituario@uol.com.br
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