São Paulo, quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

LUIZA GURJÃO FARIAS (1915-2010)

A luta para achar um filho desaparecido

ESTÊVÃO BERTONI
DA REPORTAGEM LOCAL

Um dos filhos de dona Luiza Gurjão Farias chamava-se Bergson, rapaz apaixonado por Noel Rosa, craque no basquete e estudante de química da federal do Ceará.
Era um menino maravilhoso, nas palavras da mãe.
Certa vez, estudando à porta de casa, ele foi abordado por um homem que dizia precisar de dinheiro, pois a mulher estava hospitalizada, necessitando de sangue. Bergson lhe respondeu: "Eu também não tenho dinheiro, mas tenho sangue". E foi dali ao hospital doá-lo.
Para Luiza, o que restou do filho foram fotos e recordações como essa, que ela revelou recentemente num depoimento em vídeo. No fim dos anos 60, o jovem saiu de casa, sem dizer seu destino, e a mãe nunca mais o viu.
Em 1972, aos 25 anos, ele foi morto durante a guerrilha do Araguaia, e enterrado no cemitério de Xambioá (TO).
Seus restos mortais foram achados em 1996, mas só reconhecidos no ano passado.
Segundo os dirigentes do PC do B Benedito Bizerril e Carlos Diógenes, que militaram com Bergson, Luiza resistiu por anos a aceitar a morte do filho e nunca desistiu de reencontrá-lo.
Em outubro último, 37 anos após o acontecido, ela finalmente o enterrou, junto ao marido, e disse à TV se sentir confortada por ganhar um local onde poderia rezar e acender uma vela para ele.
No domingo, ela morreu aos 95, de problemas cardíacos, e foi enterrada ontem, em Fortaleza, com Bergson.

coluna.obituario@uol.com.br


Texto Anterior: Mortes
Próximo Texto: Calor supera média em SP e 8 capitais
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.