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OPINIÃO
Recursos para a saúde
JOSÉ KNOPLICH
O tema da municipalização da
saúde foi apresentado aos leitores
da Folha pelo economista Luís
Nassif, em vários artigos, durante
o mês de janeiro de 98, ano em que
entrará em vigor o Plano de Atendimento Básico do SUS.
O PAB é a parte menor do atendimento à saúde da população,
pois realiza ações preventivas, e
não o tratamento das doenças.
A municipalização, que está na
Constituição de 88, significa a
transferência de recursos federais,
somados aos estaduais e aos do
município, que deveriam pagar o
tratamento e a prevenção.
É sabido que o governo federal
não envia esses recursos com regularidade, além de eles serem
muito pequenos. Por isso, das
5.000 cidades brasileiras, nem 2%
aceitaram fazer a municipalização
plena: é um risco muito grande.
A municipalização, descentralizadora, é teoricamente boa em si.
Deveria ser realizada a um custo
real de R$ 93 por habitante/ano
em 1997. Esse total se mostrou insuficiente. Em 1998, o governo o
separou em duas partes; R$ 10 por
habitante/ano para o município,
que deve fazer a prevenção, e R$
83 para o governo do Estado, que
deverá cuidar das doenças.
O PAB é a municipalização da
saúde preventiva, feita por decreto. Mal comparando, é como a lei
da doação compulsória do transplante para os prefeitos.
Segundo dados do SUS, 88% dos
mais de 5.000 municípios do Brasil
não gastam nem essas importâncias ínfimas em prevenção, pois
são, na maioria, cidades com menos de 30 mil habitantes.
Esse PAB, que ia ser obrigatório,
passará a ser aplicado em 1.376
(25%) do total dos municípios
brasileiros de médio e grande porte. Por exemplo, a cidade de Anagé, na Bahia, recebeu R$ 4.000 do
SUS em 1997, para fazer prevenção. Ela passará a receber, pelos
seus 44 mil habitantes, a importância de R$ 441 mil em 1998.
O que o prefeito deve dar em troca? Diz a proposta que serão 51
procedimentos simples, como vacinação, consultas preventivas e
ações odontológicas.
Custa-nos crer que quantias tão
pequenas tenham preços melhores que os obtidos pelo governo.
Se Anagé resolver fazer prevenção
de câncer do útero, deverá ter um
patologista, pago com o dinheiro
do PAB. E se forem descobertos
casos de câncer? A radioterapia será feita pelo SUS onde? Na própria
cidade, que não tem hospitais, ou
em Salvador? De todo modo, o
prefeito passa a ser responsável
pela solução do caso, sem receber
parte da verba dos R$ 83 restantes.
O PAB é uma iniciativa ótima,
mas deveria ser uma contribuição
a mais, e não diminuir os atuais
parcos recursos da saúde.
José Knoplich, 62, médico reumatologista, é
doutor em saúde pública pela USP. Foi secretário-executivo do Plano de Atendimento à Saúde
e presidiu a Associação Paulista de Medicina.
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