São Paulo, Quarta-feira, 24 de Fevereiro de 1999
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"Queria pelo menos o pó", diz mãe

do enviado especial a Maceió

"Eu queria pelo menos encontrar o pó, o pó dos ossos do meu filho."
A frase dramática consta da capa do relatório da Comissão de Direitos Humanos da Câmara de Vereadores de Maceió sobre os desaparecidos. É de autoria de Benedita Pereira dos Santos, moradora da periferia da capital alagoana.
O filho de Benedita sumiu no Dia das Mães de 1996. Era eletricista. Foi levado por desconhecidos quando bebia em um bar na localidade de Santa Lúcia.
"Sou mãe de 13 filhos, mas aquele está faltando sempre na minha casa", disse Benedita na audiência pública com parentes de desaparecidos convocada pela Comissão de Direitos Humanos.
Benedita Maria dos Santos teve o marido assassinado e um cunhado desaparecido. Ao ver na televisão esqueletos sendo desenterrados perto de Maceió, decidiu procurar o IML (Instituto Médico Legal).
"Não temos condições de fazer por nossa conta os exames de DNA. Pedimos ao governo que assuma as despesas dos exames. Minha família ficou praticamente destruída", afirmou ela.
Ex-coordenador do Fórum Permanente Contra a Violência em Alagoas e membro do Conselho Estadual dos Direitos Humanos, o advogado Pedro Montenegro diz que os responsáveis pelos desaparecimentos no Estado agem conforme um mesmo ritual.
"Eles sequestram, barbarizam e enterram, sempre nas mesmas áreas. E na maior impunidade", disse Montenegro.


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