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ADMINISTRAÇÃO
A partir de 2004, cidade só poderá gastar 12% da receita com inativos; percentual teria sido ultrapassado em 2002
SP pode estourar despesas com previdência
CHICO DE GOIS
DA REPORTAGEM LOCAL
A Prefeitura de São Paulo corre
contra o tempo. Sem descontar
nada dos salários dos 125 mil funcionários públicos municipais para lhes garantir a aposentadoria, o
Executivo paulistano tem uma
ameaça na lei federal 9.717, que
dispõe sobre as regras gerais para
a organização de regimes de previdência social dos servidores.
De acordo com o artigo segundo da lei, o município poderá
comprometer, no máximo, 12%
de sua receita corrente líquida
(soma da arrecadação) para o pagamento de inativos e pensionistas. No ano passado, porém, essa
conta ultrapassou o limite. O cálculo é da assessoria do vereador
Ricardo Montoro (PSDB), que
utilizou números disponibilizados pelo Sistema de Execução Orçamentária (SEO), da Câmara
Municipal.
Cálculos
Segundo Montoro, a estimativa
de arrecadação da prefeitura para
o ano passado é de R$ 9,535 bilhões -o balanço oficial ainda
não foi divulgado. Os 42 mil inativos devem consumir R$ 1,133 bilhão. Outros R$ 222 milhões terão
sido destinados ao pagamento de
pensões, realizado pelo Iprem
(Instituto de Previdência do Município). Como os servidores contribuem com 5% apenas para o
benefício de pensões, desconta-se
da conta R$ 167 milhões. O resultado -R$ 1,188 bilhão- é o que
os técnicos chamam de despesa líquida da previdência.
E é aí que está o problema. Este
R$ 1,188 bilhão representou
12,46% da receita do município
no ano passado. Ou seja: está acima dos 12% estipulados pela Lei
9.717. Não fosse a Medida Provisória 2.187-12, de 27 de julho de
2001, editada pelo ex-presidente
Fernando Henrique Cardoso, o
município já estaria agindo de
forma irregular. A MP alterou o
prazo, inicialmente previsto para
31 de dezembro de 2001, para que
os municípios se adequassem à legislação. O novo prazo termina
no fim do ano.
Na análise das contas de 2001, o
Tribunal de Contas do Município
(TCM) já alertara para o problema dos gastos com inativos. "Se
forem mantidas as taxas de crescimento da arrecadação e dos gastos com inativos, em 2006 a previdência consumirá cerca de 21%
da receita municipal", aponta o
relatório, na página 238.
Na página 248, os conselheiros
fazem uma crítica ao Executivo:
"contrariando determinações da
LDO [Lei de Diretrizes Orçamentárias], a Prefeitura de São Paulo
não criou, em 2001, o sistema previdenciário municipal".
De 1997 até o ano passado, os
gastos com os inativos aumentaram 88,2% nominalmente. Em
1997, primeiro ano da gestão de
Celso Pitta, foram destinados R$
602 milhões para essa finalidade.
No ano passado, a cifra chegou a
R$ 1,133 bilhão. A despesa líquida
da previdência (inativos, somados com pensionistas e descontada a contribuição dos servidores
para pensão) também oscilou no
mesmo patamar: de R$ 629 milhões para R$ 1,188 bilhão.
Pelo sistema atual, os funcionários públicos municipais contribuem mensalmente com 5% de
seu salário para o Iprem. Esse dinheiro, porém, serve apenas para
pagamento de pensões. O Executivo complementa o valor com
mais 2%.
Segundo a assessoria de imprensa do Iprem, atualmente há
20.269 pensionistas, que consomem R$ 18,5 milhões ao mês.
A situação torna-se um pouco
mais complicada por conta da renegociação da dívida do município com a União, cujo contrato foi
assinado em junho de 1999 pelo
ex-prefeito Celso Pitta.
A cláusula quinta desse contrato
estipula que "o limite do dispêndio [13% da receita"... será elevado em dois pontos caso o município... não tenha implantado a
contribuição previdenciária para
os servidores ativos e inativos,
com alíquota média de, no mínimo, 11% da remuneração total".
Embora não determine um prazo para a adoção dessa medida, o
contrato deixa claro que o comprometimento dos recursos vai
aumentar. Segundo cálculos de
Montoro, se a regra valesse a partir deste ano, a Prefeitura iria disponibilizar mais R$ 200 milhões
anuais para a União -mais ou
menos o mesmo que o Executivo
espera arrecadar a mais com as alterações no IPTU deste ano.
Debate
"Precisamos encarar de frente
essa discussão", afirma o vereador tucano. "Se houver um debate
amplo com a sociedade e com o
funcionalismo, esclarecendo o
porquê de cobrar pela previdência dos servidores, creio que todos
entenderiam."
O superintendente do Iprem,
Alencar Ferreira, disse que a prefeitura está atenta à discussão,
mas prefere esperar o resultado
da votação da reforma da Previdência no Congresso para, depois, propor uma legislação municipal sobre o assunto.
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