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São Paulo, quinta-feira, 24 de abril de 2003

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CAOS NO RIO

Violência do tráfico e ameaça de intervenção federal levam Garotinho a assumir a Segurança

Contra crise, Rosinha apela ao marido

Marco Antônio Rezende /Folha Imagem
Da esq. para dir., Josias Quintal, Rosinha e seu marido, Garotinho


ANTÔNIO GOIS
SÉRGIO TORRES

DA SUCURSAL DO RIO

Num gesto inesperado, a governadora do Rio, Rosinha Matheus (PSB), anunciou ontem que a partir de segunda-feira seu marido e ex-governador do Estado, Anthony Garotinho (PSB), 42, assumirá a Secretaria de Segurança Pública do Estado, hoje ocupada por Josias Quintal, coronel reformado da Polícia Militar.
O anúncio acontece em meio ao recrudescimento de ações violentas do narcotráfico e cinco dias depois de a Folha ter revelado que o governo federal cogitava, em uma hipótese extrema, intervir no comando da segurança do Rio.
Segundo Garotinho e Rosinha, a decisão já havia sido negociada "algumas semanas" atrás com Quintal. A Folha apurou que ela foi sacramentada anteontem, numa reunião da qual participaram o casal, Quintal e o secretário de Administração Penitenciária, Astério Pereira dos Santos.
A escolha de Garotinho surpreendeu integrantes das cúpulas da secretaria e da Polícia Civil, embora o ex-governador viesse atuando como assessor informal da mulher. Em março, ele participou de reunião de Rosinha com o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos. Rosinha, por sua vez, foi secretária de Ação Social no governo do marido, o que lhe permitiu disputar o Estado em 2002.
Na Secretaria de Segurança, Quintal já sinalizava que em breve trocaria o Rio por Brasília, onde tem mandato de deputado federal a cumprir. Seus assessores diretos acreditavam que sua saída ocorreria em maio e que o substituto seria o desembargador Marcus Faver, ex-presidente do Tribunal de Justiça do Rio. Faver disse que não chegou a ser convidado.
"Não há dúvida de que vivemos um momento difícil. Para um político de tantos êxitos eleitorais como eu, talvez esse não fosse o momento mais adequado para assumir a Secretaria de Segurança Pública. Mas, na vida, temos que optar entre o compromisso com a população e os nossos desejos pessoais", afirmou Garotinho.
A troca no comando da segurança foi anunciada em uma entrevista na qual estavam presentes o primeiro casal e Quintal. Rosinha negou que estivesse afastando Quintal por estar insatisfeita com seu trabalho. "O coronel Josias havia demonstrado anteriormente uma vontade de cumprir o seu mandato de deputado ou parte dele. Agora, com o Garotinho aceitando o meu convite, ele poderá cumprir parte do mandato."
Segundo a governadora, seu marido sempre soube que ocuparia em seu governo a secretaria que quisesse. "Estou colocando na secretaria o que eu tenho de mais importante na vida, que é o meu marido", disse.
O ex-governador afirmou que seu comando na secretaria não dificultará os entendimentos com o governo federal -apesar de ser do PSB, partido aliado do governo Lula, ele tem feito críticas contundentes ao Planalto. O atual secretário Nacional de Segurança, Luiz Eduardo Soares, foi demitido por Garotinho em 2000 da coordenação da Secretaria de Segurança do Estado.
"Não haverá problemas [com Soares". Eu sei que ele está cumprindo sua função. Acho que estão acontecendo mal-entendidos na relação entre o governo federal e o Estado. Não houve recusa em nenhum momento do Estado em colaborar", afirmou Garotinho.
Horas depois, o secretário desembarcou em Brasília para conversar com deputados federais do PSB e tentar, como primeiro ato, buscar apoio do governo federal.
O ex-governador se encontra hoje pela manhã com o ministro Márcio Thomaz Bastos (Justiça), reunião que foi intermediada pelo deputado Eduardo Campos (CE), líder da bancada do PSB.
"Vou apenas esclarecer essas notícias infundadas que têm sido publicadas de que o Rio não quer a colaboração do governo federal (...) estamos prontos e abertos a todo entendimento, porque o que o que interessa é a segurança do povo do Rio", disse.
Segundo ele, não passam de boatos as informações de que a governadora Rosinha Matheus seria contrária ao Sistema Único de Segurança Pública.
Garotinho se reuniu durante a noite com a bancada federal do PSB e com deputados do Rio. No encontro, sugeriu que os parlamentares apresentem um projeto que torne inafiançável o crime de roubo e receptação de veículos roubados, o que é, segundo ele, uma das principais fontes de financiamento do narcotráfico.


Colaborou RANIER BRAGON, da Sucursal de Brasília


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