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SEGURANÇA
Pela proposta, laudo criminológico deixa de ser requisito para beneficiar preso
Marrey vê risco em projeto do governo
CLÁUDIA TREVISAN
EDITORA-ADJUNTA DE BRASIL
A cúpula do Ministério Público
de São Paulo está em "ebulição"
com um dos itens do projeto de lei
que institui o Regime Disciplinar
Diferenciado para presos de alta
periculosidade. Ao invés de tornar mais rigoroso o cumprimento
da pena, o artigo pode facilitar a
transferência de criminosos do
regime fechado para o semi-aberto ou o aberto, afirma o procurador-geral de Justiça do Estado,
Luiz Antonio Marrey.
O texto, elaborado pelo Ministério da Justiça, foi aprovado pela
Câmara dos Deputados e agora
tramita no Senado. O Ministério
Público ataca o item do projeto
que deixa de considerar a aprovação em exame criminológico como um dos requisitos para que o
preso tenha o benefício da progressão da pena -que significa
passar de um sistema mais rigoroso para um menos rigoroso.
A legislação atual prevê duas
condições para conceder o benefício: o exame criminológico, de
caráter subjetivo, e o cumprimento de um sexto da pena. O projeto
substitui o exame pelo atestado de
bom comportamento do preso,
avaliação que depende da administração de cada presídio.
"Há vários casos em que o laudo
criminológico aponta bom comportamento, mas alta periculosidade e, por isso, a progressão da
pena é negada", diz Marrey.
O secretário de Administração
Penitenciária de São Paulo, Nagashi Furukawa, é um dos principais defensores da mudança, ao
lado do governo federal. O principal argumento é o de que os laudos são falhos e não têm condições de avaliar a real disposição
do preso de voltar a delinquir
-sem falar na ausência de um
número suficiente de funcionários para atender à demanda. Outro é o de que o processo para
concessão desse laudo é demorado e pode levar uma pessoa a ficar
presa além do tempo exigido pela
legislação, o que contribui para a
superlotação de presídios.
"A motivação mais remota do
artigo é abrir vaga no sistema penitenciário, mas essa saída é socialmente irresponsável", diz
Marrey. "Se fôssemos condescendentes com os criminosos, não teríamos implantado há dois anos o
Regime Disciplinar Diferenciado
para os delinquentes perigosos",
rebate Furukawa.
Já o relator do projeto na Subcomissão de Segurança Pública do
Senado, Demóstenes Torres
(PFL-GO), propõe a manutenção
do laudo. "Se é malfeito, temos de
aperfeiçoá-lo, e não eliminá-lo."
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