São Paulo, sexta-feira, 24 de abril de 2009

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Maioria que aprovou Nova Luz recebeu doação de imobiliária

Dos 42 vereadores que aprovaram projeto de terceirização da área, 23 foram beneficiados por associação ligada ao Secovi

Área a ser explorada fica no centro; parlamentar do PSDB diz que não há relação entre doação feita a vereadores e o resultado da votação

Fernando Donasci/Folha Imagem
Prédio na região central de onde Kassab pretende despachar projetos ligados ao projeto Nova Luz

MARIANA BARROS
DA REPORTAGEM LOCAL

Dos 42 vereadores paulistanos que aprovaram anteontem o projeto de terceirização da Nova Luz, 23 receberam doações da AIB (Associação Imobiliária Brasileira), entidade usada pelo Secovi, sindicato do setor imobiliário, para dar dinheiro a vereadores durante a campanha eleitoral. Pela lei, sindicatos são proibidos de fazer tais doações.
Outros quatro vereadores que foram financiados pela AIB, estes da oposição ao prefeito Gilberto Kassab (DEM), votaram contra o projeto. Dois outros parlamentares que receberam doação se ausentaram.
A terceirização da Nova Luz foi aprovada junto com outro projeto que dá sustentação legal ao negócio: a concessão urbanística. Pelo texto aprovado, a prefeitura poderá ceder à iniciativa privada o direito de desapropriar imóveis em determinadas partes da cidade para a realização de melhorias. O lucro vem depois, com a venda desses imóveis valorizados.
De acordo com a Embraesp (Empresa Brasileira de Estudos do Patrimônio), o preço do metro quadrado na Nova Luz subirá de valor após as obras previstas, beneficiando o setor imobiliário. Quando o limite a ser construído chegar a quatro vezes a área do lote, o preço pode quadruplicar de valor. Depois da Nova Luz, outras três áreas devem ser alvo de concessão em Pirituba (zona norte), Itaquera e Mooca (zona leste).
Em nota, o Secovi negou ter repassado recursos para doações e afirmou que tem com a AIB apenas "algumas congruências" em suas diretorias.
Quem recebeu as doações, no entanto, sempre achou estar negociando com o Secovi, conforme revelou a Folha na semana passada. A AIB não conta com sede nem receita próprias.

Explicações
Segundo o vereador José Police Neto (PSDB), relator do projeto e apoiador da proposta de concessão, não há relação entre as doações e o resultado da votação. Ele recebeu R$ 270 mil da AIB na eleição passada.
"Se a gente adotar essa fórmula, eu não poderei ser vereador, porque eu não posso relatar nada de saúde, porque eu tive um médico que fez doação para a campanha; não vou poder relatar nada da educação, porque teve um professor que fez doação para a campanha", disse. Para ele, "ou a legislação muda para ter financiamento público ou então a gente cria uma regra que, ao doar, você já fica impedido [de ser relator]".
Para o vereador José Américo (PT), que recebeu R$ 50 mil da AIB e votou contra a concessão, "é uma visão preconceituosa achar que o político se vende por uma doação". Américo afirma que votou de acordo com sua consciência e que a AIB nunca lhe pediu nada.


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