São Paulo, Sábado, 24 de Abril de 1999
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SAÚDE
Criança de um ano e meio morre engasgada com tampa de produto com "surpresa"; família quer processar fabricante
Embalagem de doce mata bebê por asfixia

EDMILSON ZANETTI
em São José do Rio Preto

O mecânico José Henrique Neto, 46, disse ontem que sua família vai processar o fabricante do doce Kinder Ovo, apontado como responsável pela morte de seu neto.
O bebê Igor Eduardo Pereira de Silva Henrique, de um ano e seis meses, morreu na noite de quarta-feira, depois de engolir a tampa de um recipiente plástico, semelhante ao Kinder Ovo.
Segundo a família, que mora em Salto de Pirapora (120 km a oeste de São Paulo), trata-se da tampa do Kinder Ovo. O avô disse ter outro doce da mesma marca como prova.
A empresa Ferrero do Brasil, importadora do Kinder Ovo, enviou ontem à cidade um médico e um gerente para verificar se o brinquedo não é um similar.
O avô disse que não quer indenização pela morte do neto, mas pretende, com a ação na Justiça, que a empresa acusada mude a embalagem para evitar novos acidentes com crianças.

Outro lado
O diretor de relações institucionais da Ferrero do Brasil, Giuseppe de Cristófaro, 48, disse que o produto é comercializado há 36 anos no mundo e segue padrões internacionais de segurança.
O diretor afirmou que já foram vendidos mais de 20 bilhões do doce no mundo e desconhece algum acidente desde seu lançamento. No Brasil, o produto é vendido há quatro anos, segundo Cristófaro.
O Kinder Ovo, doce em forma de ovo coberto com chocolate, contém um brinquedo-surpresa.
A embalagem contém alerta, em vários idiomas, inclusive em português, que o brinquedo não é recomendado para crianças menores de três anos.
Cristófaro disse que a capa da embalagem é alaranjada, e o plástico que teria provocado a morte do bebê é descrito pela polícia e pelos médicos como cor-de-rosa.
Por isso a empresa quer investigar para saber se o objeto que provocou a morte do bebê é do Kinder Ovo ou de algum produto similar.

Laudo
O delegado Décio Tadeu de Camargo Madureira enviou ontem o objeto para perícia ao Instituto de Criminalística de Sorocaba (87 km a oeste de São Paulo).
Segundo ele, só uma perícia poderá dizer se a embalagem que produziu a morte do bebê é do doce Kinder Ovo ou uma imitação. Ele não sabe se abrirá inquérito, pois inicialmente não vê a quem responsabilizar pelo acidente.
Laudo feito pelo IML (Instituto Médico Legal) de Sorocaba aponta "anoxia cerebral" e "asfixia mecânica" como causa da morte.
O avô, que prestou socorro ao neto, disse que demorou "dois, três minutos" para chegar ao Centro Médico Municipal, logo que percebeu o acidente.
"Ele pôs na boca, ficou de pé e começou a mudar de cor. A gente passava o dedo na garganta e sentia uma coisa lisa. Não dava pra ver. Aí ele começou a sangrar pela boca", descreveu.
Segundo o avô, o brinquedo foi dado por uma filha sua, tia do bebê, como presente. "Meu filho escondeu. A gente não sabe como foi aparecer na mão dele", disse o avô.
Segundo a diretora do Centro Médico Municipal, Roseli das Graças Sanches Campos, o bebê já chegou ao local com as pupilas dilatadas. Dois médicos de plantão tentaram reanimá-lo durante 40 minutos, em vão.
O médico Antonio Augusto Cais dos Santos, 47, membro da Academia Americana de Pediatria, alerta que, assim que o bebê começa a engatinhar, os pais devem deixar tudo que oferece risco fora do alcance de suas mãos, para evitar acidentes como esse.


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