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TRANSPORTES
Sem metrô e trens, cortar a cidade com bilhete único fica 50% mais barato, mas trajeto só por ônibus é bem mais demorado
Viagem sem integração leva até 50% mais
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL
Um passageiro de ônibus já
consegue atravessar a cidade de
São Paulo, do extremo oeste ao
extremo leste, pagando uma única tarifa de R$ 1,70 -redução de
50% em relação à quantia necessária até a semana retrasada para
percorrer o mesmo trajeto.
Mas a economia propiciada pela implantação do bilhete único,
projeto da prefeitura que permite
baldeações livres por até duas horas nos coletivos, esbarra no desperdício de tempo -uma situação que só seria atenuada com a
integração de trens e metrô.
A Folha testou por dois dias, em
horários sem lentidão, rotas com
cerca de 60 km de distância, entre
uma avenida do distrito de Raposo Tavares, que faz divisa com Cotia, a uma de Itaim Paulista, que
faz divisa com Itaquaquecetuba.
Usando só ônibus, esse percurso dura quase três horas, numa
velocidade média de 19 km/h. O
gasto se restringe a R$ 1,70 -sendo possível acessar a última das
três conduções antes do limite de
duas horas do bilhete único.
Se a rede metroviária for incluída, as opções de trajeto aumentam, a velocidade média sobe para 27 km/h e a duração da viagem
chega a ser reduzida de 25 minutos a 56 minutos, dependendo das
alternativas utilizadas. Mas o custo para obter essa economia de
tempo é alto: atinge R$ 3,60.
Esse trajeto simbólico, entre as
avenidas Heitor Antônio Eiras
Garcia e Marechal Tito, é exemplo
da falta de coordenação da rede
do transporte, evidenciada após a
implantação do bilhete único.
Um impasse entre as gestões
Marta Suplicy (PT) e Geraldo
Alckmin (PSDB) impede que os
cartões magnéticos aceitos em
ônibus e lotações sejam usados
nas estações da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) e do Metrô. Oficialmente, a
divergência é sobre quem bancaria gastos de R$ 14 milhões.
Essa quantia, necessária para a
instalação de 722 validadores eletrônicos na rede sobre trilhos,
equivale a 2% do montante reservado em 2004 por esses dois governos para subsidiar os sistemas
de transporte coletivo -sem incluir os novos investimentos.
Detalhamento da pesquisa Origem/Destino do Metrô, de 2002,
feita pela coordenadora do levantamento, Emília Mayumi Hiroi,
mostra como essa integração potencializaria o uso do bilhete único, bem como seus beneficiados.
A capital paulista tem 630 mil
viagens diárias feitas por passageiros que usam dois ou mais ônibus e 858 mil viagens que utilizam
ônibus e metrô ou lotação e metrô
num mesmo percurso. Ou seja: os
favorecidos automaticamente
mais que dobrariam se houvesse a
compatibilidade dos sistemas.
Sem ela, resta agora a esses
usuários ter de guardar dois tipos
de moeda na carteira -uma da
prefeitura e outra do Estado-,
além de não poder desfrutar de
benefícios simultâneos.
Quem quiser a tarifa integrada
ônibus/metrô em vigor, que dá
um desconto de 12,5% -de R$
3,60 para R$ 3,15-, perde a vantagem de fazer baldeações livres
por duas horas nos coletivos municipais. Portanto: quem gastava
R$ 3,15 na integração ônibus/metrô tende a procurar um deslocamento possível somente por ônibus e lotações e pagar R$ 1,70.
Isso favorece os operadores municipais, remunerados conforme
a quantidade de transportados.
A integração com a rede sobre
trilhos é desfavorável às empresas
de ônibus e aos perueiros e também vista com receio por alguns
técnicos do Metrô, que temem
uma superlotação das linhas já saturadas nos picos da manhã e da
tarde, como a 1-azul (Norte/Sul) e
a 3-vermelha (Leste/Oeste).
Esses entraves não seriam suficientes para impedir uma compatibilidade entre os sistemas do Estado e da prefeitura -que deve
ser consolidada até 2006-, mas
certamente inviabilizam nos próximos anos as discussões sobre
uma tarifa única que permita aos
passageiros deslocamentos livres
em metrô, ônibus, lotações e
trens, indo de Raposo Tavares ao
Itaim Paulista da forma mais rápida e pelo menor preço disponível.
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