São Paulo, quarta-feira, 24 de maio de 2006

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GUERRA URBANA

Governo agora afirma que, dos 110 mortos em ações policiais, 79 tinham ligação com a facção criminosa, mas não divulga lista

Secretário da Segurança Pública e comandante-geral da PM dão explicações contraditórias para a diferença no total de mortes


Estado diz que 31 mortos não eram do PCC

AFRA BALAZINA
DA REPORTAGEM LOCAL

Pressionado para divulgar a lista de mortos em ações policiais, o governo paulista recuou e ontem reduziu o número de mortes de suspeitos de ligação com o PCC em confronto com a polícia. Até anteontem, a gestão Cláudio Lembo (PFL) dizia ter matado 109 "criminosos" da facção. Ontem, o balanço era de 110 mortos, sendo 79 envolvidos com o grupo criminoso.
O secretário da Segurança Pública, Saulo de Castro Abreu Filho, e o comandante-geral da Polícia Militar, Elizeu Eclair Teixeira, deram explicações contraditórias para a diferença dos dados em entrevista no Palácio dos Bandeirantes.
Saulo afirmou que o governo havia divulgado um dado "bruto" sobre as mortes, com todos os casos de violência ocorridos no período no Estado. Ou seja, haveria casos de mortos que não teriam ocorrido em confronto com a polícia. "Num primeiro momento, nós computamos lesão corporal seguida de morte, suicídio, não importa. Toda morte que não foi natural, portanto foi ao IML, computa."
O secretário disse ainda que o governo "sempre" deixou isso claro, embora o próprio site da Secretaria da Segurança, após a entrevista, ainda informasse um total de 109 mortos do PCC.
Já o comandante-geral da PM afirmou que todos foram mortos pela polícia, mas que a diferença se deu em razão de confrontos em casos de crimes comuns. "Casos de resistência seguida de morte normais em assaltos a padarias, bancos e residências", afirmou.
Por essa lógica, teria havido uma explosão de confrontos entre criminosos comuns e policiais. Segundo dados do próprio governo, a média de mortes em confronto com a polícia no primeiro trimestre deste ano foi de 1,3 por dia. Em uma semana, teriam sido 31 casos de confronto sem ligação com o PCC -média de 4,4 por dia.
Na semana passada, o coronel havia declarado que a criminalidade comum sofrera uma redução de 50% durante a crise provocada pela onda de violência do PCC.

Nomes dos mortos
Ontem, Abreu Filho disse que encaminhará a lista dos mortos ao Ministério Público, mas não deu certeza de cumprir o prazo de 72 horas estabelecido pelo procurador-geral de Justiça do Estado, Rodrigo Pinho, que acaba na quinta-feira.
O não-cumprimento da ordem, segundo Pinho, incorre em crime de desobediência, sujeito a pena de 15 dias a seis meses de detenção.
A determinação foi encaminhada ao delegado-geral Marco Antonio Desgualdo e ao comandante da PM. O diretor do IML, Hideaki Kawata, também citado no requerimento, recebeu um prazo maior (cinco dias) para o envio dos laudos.
"Não há compromisso com a pressa. Há com a verdade", respondeu Saulo sobre o prazo.
Desde o domingo retrasado, 14 de maio, a Folha também solicita a lista. Ontem, o presidente da OAB, Luiz Flávio Borges D'Urso, pediu pessoalmente a lista a Saulo, mas não obteve sucesso. D"Urso lamentou a recusa e disse que a publicação dos nomes seria "útil para o Estado e para a opinião pública".
Na entrevista, Abreu Filho admitiu a possibilidade de haver algum inocente na lista de mortos pela polícia. "Até onde a gente pode ter certeza de que as pessoas que foram mortas têm algum tipo de vinculação?"
Saulo usou essa possibilidade para justificar a não-divulgação da lista para a imprensa. "Nós, por princípio de governo, não podemos ter a irresponsabilidade de pôr um nome a público -eu estou vendo nomes no jornal- e essas pessoas por ventura serem inocentes e terem ido para o IML por uma condição absolutamente distinta daquela dos ataques."

Antecedentes
Além de rever o número de mortos, o governo divulgou o número de suspeitos do PCC mortos com passagem pela polícia. Dos 79, 55 foram identificados pela polícia, sendo que 49 teriam ficha criminal. Do total de 79 mortos, 62 teriam morrido em reação imediata da polícia após os ataques do PCC e outros 17, em "ações preventivas", relacionadas a denúncias.
O governo diz que ainda precisa fazer a identificação de 24 mortos relacionados aos atentados e de 23 mortos após resistência nos crimes comuns.

Promotor não comenta
O procurador-geral de Justiça de São Paulo, Rodrigo Pinho, disse ontem que prefere não opinar sobre a variação de números de mortos na lista da Secretaria da Segurança: "Quem deve explicar essa variação é a Secretaria da Segurança, é o secretário, o autor dos números".
Pinho participou de reunião com Abreu Filho momentos antes de o secretário divulgar os novos números.


Colaborou REGIANE SOARES


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