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Em relatório anual, Anistia condena ação das polícias
Em São Paulo, entidade critica reação policial a PCC
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
O alto número de mortos no
ano passado no Brasil em confrontos com a polícia sugere
um "uso excessivo da força ou
execuções extrajudiciais no
país". A afirmação é feita pela
Anistia Internacional em seu
relatório anual, que lista violações aos direitos humanos em
todo o mundo.
No capítulo do Brasil, a Anistia afirma que a "tentativa de
determinadas autoridades de
definir os problemas de segurança pública como uma guerra
resultou na adoção cada vez
maior de táticas militares pelas
forças policiais estaduais".
Para a entidade, essa visão,
em vez de proteger as populações mais pobres, faz com que
elas sejam duplamente vitimadas, "pois são afetadas por uma
maior concentração de criminalidade violenta, ao mesmo
tempo em que sofrem com os
métodos repressivos e injustos
usados pela polícia".
O relatório cita os Estados do
Rio e de São Paulo, dois casos
em que, diz a Anistia, o número
de mortos em confronto com a
polícia nos nove primeiros meses de 2006 superou as estatísticas de todo o ano de 2005.
No caso de São Paulo, o documento lembra os ataques do
PCC em maio do ano passado e
critica a resposta da polícia.
"Em diversos incidentes em
bairros pobres de todo o Estado, pessoas foram assassinadas
por homens mascarados em situações que sugeriam execuções extrajudiciais ou vinganças do tipo cometidos por grupos de extermínio (...)."
A Secretaria da Segurança
Pública de São Paulo afirmou
que não iria comentar o relatório. Neste mês, o governo divulgou levantamento que aponta
que das 493 mortes na primeira
onda de violência, 152 foram
esclarecidas e as provas estão à
disposição da Justiça.
Em relação ao Rio, a Anistia
voltou a criticar o uso do "caveirão", veículo blindado usado
pela Polícia Militar em incursões em favelas. O crescimento
das milícias e a atuação do
Exército no ano passado, quando ocupou em março favelas da
cidade para recuperar armas
roubadas de um quartel, também foram citados.
Em nota distribuída à imprensa, a Secretaria de Segurança Pública do Rio diz que "o
relatório mostra mais uma vez
que a Anistia Internacional não
entende a complexidade do tráfico de drogas na cidade". Segundo a secretaria, "embora
delicado e às vezes doloroso, o
plano da polícia na Vila Cruzeiro [onde estão concentrados no
momento os maiores conflitos
entre a PM e traficantes em favelas] é devolver aos moradores e ao Estado áreas tomadas
por bandidos inconseqüentes e
fortemente armados".
O documento cita ainda relatos de assassinatos cometidos
por grupos de extermínio em
Estados nordestinos, falhas na
administração do sistema carcerário, assassinatos de ativistas rurais em conflitos agrários,
persistência de trabalho escravo -apesar de avanços- e lentidão da Justiça, citando como
exemplo para este último item
a falta de punição até hoje de
envolvidos na morte de 111 presos no Carandiru, em 1992.
Sobre o governo Lula, a Anistia afirma que seu primeiro
mandato foi marcado por investimentos sociais como o
programa Bolsa Família e por
uma política fiscal rigorosa,
mas também "por extensas alegações de corrupção por todo o
espectro político" e pelo "envolvimento de autoridades em
atividades criminosas, o que resultou em violações dos direitos humanos e num aparente
crescimento do crime organizado em todo o país".
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