São Paulo, sábado, 24 de maio de 2008

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ANTÔNIO CARVALHO (1946-2008)

Voz que ecoava na madrugada da rádio

WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Os fãs se empertigaram na internet, em 2006, para arrancar do radialista Antônio Carvalho a resposta -quando voltaria, afinal, ao programa que embalara as madrugadas com sua "conversinha de pé de ouvido"? Não sabia.
Foi em Lavras (MG) que nasceu e começou no rádio, aos 13, na Cultura, até vir para São Paulo. "A sensação que tive quando estreei nos microfones da [rádio] Bandeirantes foi de estupor, de que eu estava no paraíso." Isso em 1969, no "Titulares da Notícia" -lá sua voz grave passou a demorar-se no fim das palavras, como a fincá-las na memória dos fãs.
Fez um programa atrás do outro, do "Freqüência Balançada" ao "Grande Sampa", que abria o dia para muitos. "Tudo o que falo no ar tem um começo, meio e fim", dizia. Mas era um fim cada vez mais espiritualista.
"Se eu fosse falar o que falo hoje há dez anos, eu seria internado", disse Carvalho. "Um dia eu disse algo no ar sobre quando vi o Sol, uma visão. Eu não vi o Sol, vi um arcanjo enorme." Já não era o mesmo, nem seus anseios ou sua saúde. Mas acreditava que a leucemia não o deixaria voltar ao rádio. Não deixou. Morreu sábado, aos 62.
Falaram da morte ao locutor que o substituiu no programa "Grande Sampa". Ele tremeu. Dois dias depois exigiu que a vinheta na voz de Carvalho jamais fosse tirada do ar: "Prestação de serviço, informação na madrugada, começa agora Bandeirantes a Caminho do Sol".
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