São Paulo, domingo, 24 de junho de 2001

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COMPORTAMENTO

Trabalho revela práticas sexuais prediletas do brasileiro; dados serão apresentados em congresso na França

Beijo é preferência nacional, diz pesquisa

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Depois da penetração vaginal, o beijo é a prática sexual preferida dos brasileiros. Citado por 88,4% dos homens e 81,0% das mulheres, o beijo deixa para trás variantes como abraço, sexo oral, masturbação a dois e sexo anal.
Esse lado supostamente romântico da cama do brasileiro faz parte de uma extensa pesquisa sobre práticas sexuais que será apresentada terça-feira no 15º Congresso Mundial de Sexologia, em Paris.
O estudo, coordenado por Carmita Abdo, do Projeto Sexualidade do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, ouviu 2.835 pessoas em seis capitais e algumas cidades paulistas. Todas eram maiores de 18 anos -47% homens e 53% mulheres.
A preferência pelo beijo aparece na pergunta sobre as práticas mais comuns na relação sexual, além da penetração vaginal.
O sexo oral foi citado por 65,5% dos homens e 52,2% das mulheres. O sexo anal foi referido por 30,1% dos homens e 14,4% das mulheres. Essa diferença de percentuais seria explicada por outro dado, lembra Carmita: enquanto 23,2% das mulheres disseram manter ou ter tido parceiro fora do casamento, a porcentagem nesse item sobe para 63,7% entre os homens. E as práticas sexuais fora do casamento costumam ser menos conservadoras.
O Estudo do Comportamento Sexual, pesquisa que teve o apoio do laboratório Pfizer e que já teve parte dos dados divulgados, confirma a tese de que a sexualidade também sofre com a exclusão. Ao comparar os níveis de escolaridade, o estudo constatou que a disfunção erétil é 3,6 mais frequente nos homens que têm apenas o primário, quando se compara com quem cursou a universidade. Disfunção erétil é a incapacidade de manter a ereção por tempo suficiente para uma relação sexual.
"As pessoas que têm menos acesso à informação também têm menos acesso à saúde e mais conceitos errados sobre sexualidade", diz a pesquisadora. Cuidam menos das várias causas da disfunção erétil, como a hipertensão, o diabetes e a depressão; bebem mais e comem pior. Ser pobre acaba sendo o principal fator de risco para a impotência.
Esses fatores se agravam com a idade. Na pesquisa, 1,1% dos homens aos 40 anos não tinha ereção alguma, contra 11,8% daqueles com 70 anos ou mais.
No conjunto dos entrevistados, 31,5% disseram ter uma disfunção erétil mínima, 12,1%, moderada, e 2,6%, completa. Os outros, 53,8%, afirmaram não ter problema algum de ereção.
A autoconfiança nacional aparece na nota de 1 a 10 que os entrevistados deram ao seu próprio desempenho sexual: as mulheres se atribuíram uma média de 7,4, os homens, de 7,8.
Entre os temores que afligem as duas partes durante a relação, o medo de não satisfazer o parceiro e o de pegar DST-Aids estão no topo da lista. Cerca de 54% das mulheres disseram ter medo de se infectar, mas 40% delas afirmaram não usar camisinha "nunca" e 25,1%, "às vezes". "Revela que a preocupação em manter o parceiro conta mais", observa Carmita.
A lista dos medos mostra a diferença de preocupação entre os sexos: enquanto 53,4% dos homens disseram ter medo de perder a ereção, 6,1% das mulheres afirmaram se preocupar que isso venha a ocorrer com o parceiro.
Segundo a pesquisa, 3,1% das mulheres disseram ser homo ou bissexuais. Entre os homens, 3,9% afirmaram ter práticas homossexuais, e 4,7%, bissexuais.



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