São Paulo, domingo, 24 de junho de 2001

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Grande Recife enfrenta racionamento há 18 anos

FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM RECIFE

Há 18 anos os cerca de 3,5 milhões de habitantes da região metropolitana de Recife convivem com um racionamento de água que não tem perspectiva de acabar antes da próxima década.
Mesmo com os reservatórios lotados e sem o drama da seca, a água só jorra em média um dia a cada três nas torneiras -o equivalente a apenas dez dias de abastecimento por mês.
Em tempos de estiagem prolongada a situação se agrava e beira o caos. Há dois anos, numa das maiores secas enfrentadas pelos nordestinos no século passado, o fornecimento chegou a ser reduzido para três dias por mês.
Com o racionamento, a perfuração sem controle de poços cresceu a ponto de provocar queda na arrecadação da Compesa (Companhia Pernambucana de Saneamento), de R$ 19 milhões por mês para R$ 11 milhões.
A empresa estima que, hoje, 20% da água consumida na Grande Recife tenha os poços como origem. Como consequência, o nível da água subterrânea está caindo e há risco de salinização. Em alguns bairros de Recife, perfurar poços já está proibido.
Para o presidente da Compesa, Gustavo Sampaio, a responsabilidade pelo racionamento "só não pode ser atribuída a São Pedro".
Em Recife, disse, o índice pluviométrico, que mede a quantidade de chuva, é de 2.200 mm por ano, em média. Cada milímetro equivale à queda de um litro de água sobre uma superfície plana de um metro quadrado.
"É um volume maior do que a média de muitos países da Europa, como a Espanha", afirmou Sampaio. "Em Pernambuco, a culpa é da falta de políticas públicas adequadas, principalmente nos últimos 15 anos."
Para suprir as necessidades da região metropolitana, disse, a Compesa precisaria fornecer 14 mil litros de água por segundo. A atual capacidade de produção é de 11 mil litros por segundo.
Mesmo que a oferta aumentasse, diz Sampaio, a rede de tubulações não suportaria a pressão. Dos 4.000 quilômetros de canos instalados na Grande Recife, metade está obsoleta.
Sampaio estima em R$ 2 bilhões a quantia necessária para aplicação, no período de dez anos, nos sistemas de água e esgoto de Pernambuco. Desse total, R$ 800 milhões seriam destinados ao interior do Estado, onde 20 dos 184 municípios estão com seus sistemas de abastecimento em colapso total devido à estiagem.
Dos recursos que deveriam ser aplicados na região metropolitana, R$ 800 milhões seriam investidos em saneamento básico, serviço que atende 17% da população.
Sem um sistema eficiente, os detritos são lançados "in natura" nos rios da cidade. O rio Capibaribe, o maior de Recife, caminha para se tornar um esgoto a céu aberto. Ele é uma das 189 fontes usadas pela Compesa para o abastecimento da região. Em dois anos, a Compesa afirma ter investido R$ 230 milhões em obras.



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