São Paulo, sábado, 24 de junho de 2006

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Com mal-estar, 40 procuram hospitais

Até o meio-dia, 500 moradores haviam contatado a Cetesb com incômodo causado pelo gás que vazou na marginal

Médicos esclarecem que o butilmercaptana não traz danos graves à saúde; problemas surgem quando é inalado por longo período


FERNANDA BASSETTE
DA REPORTAGEM LOCAL

Entre as 5h e o meio-dia de ontem, cerca de 600 pessoas entraram em contato com a Cetesb e com a prefeitura para relatar os incômodos provocados pelo cheiro do gás que vazou na marginal. Nos prontos-socorros da capital, pelo menos 40 pessoas procuraram atendimento médico até o final do dia. Segundo especialistas, o gás butilmercaptana não é altamente tóxico e não causa conseqüências graves à saúde. Os sintomas surgem quando ele é inalado por um período prolongado, o que pode causar irritação das mucosas e do sistema respiratório, provocando ardência nos olhos, no nariz e na garganta, além de dor de cabeça, tontura e náuseas. "Cheguei para trabalhar às 6h e o cheiro do gás estava insuportável. Colocamos máscaras, mas não adiantou", disse o auxiliar de limpeza Antônio da Costa dos Santos, 27. A ambulante Selma Araújo da Silva, 30, que há seis anos vende café da manhã ao lado da estação de trem, também sofreu as conseqüências do mau cheiro. "Cheguei aqui por volta das 5h e o cheiro estava muito forte. Precisei ficar com um pano no nariz", disse. Por volta das 11h30, a frentista Jucicleide Cruz Fatel, 30, ainda queixava-se da ardência nos olhos e da dor de cabeça provocadas pela inalação do gás. "Cheguei para trabalhar às 6h, quando o cheiro ainda estava muito forte aqui. Tomei um copo de leite para ver se melhorava, mas não adiantou." A estudante Márcia Araújo de Almeida Ribeiro, 26, que mora na região e costuma levar seu cachorro para passear toda manhã, reclamou da situação. "Acordamos de madrugada com o cheiro do gás e não conseguimos mais dormir. Acho que até ele [o cachorro] passou mal com o cheiro", disse. O empresário João Quero Luque, 58, que também mora perto do local do acidente, disse que acordou com o cheiro do gás e chegou a pensar que era vazamento de algum apartamento vizinho. "Não sabia o que estava acontecendo, mas não consegui mais dormir." A dentista Lourdes Callero, 65, que mora há cinco quadras da avenida Paulista, disse que sua filha Soraia, 32, sentiu um forte cheiro de gás dentro de casa durante a madrugada. "Ela foi até a cozinha para ver." No 15º Distrito Policial, no Itaim Bibi, investigadores relataram ter sentido o cheiro de gás. "Muitas pessoas desesperadas apareciam aqui pedindo informação do que estava acontecendo", falou um policial que não quis se identificar. Grávida e em trabalho de parto, Maria Dalva de Souza, 26, foi encaminhada para o Hospital das Clínicas. Ela inalou o gás quando passava pelo local e sentiu tontura e náuseas. Segundo o hospital, o parto não teve relação com o gás. Mãe e bebê passam bem.
Sem riscos
O médico toxicologista Anthony Wong, diretor do Centro de Controle de Intoxicações do Hospital das Clínicas, afirmou que a inalação do gás não provoca seqüela nas pessoas, a não ser o incômodo passageiro. "Não causa danos nem mesmo para mulheres grávidas." Segundo ele, crianças, idosos e pessoas com problemas respiratórios são mais suscetíveis a sentirem os incômodos do gás. Ronan José Vieira, toxicologista do Centro de Controle de Intoxicações da Unicamp, reforçou que o gás não é cancerígeno e não provoca transtornos hepáticos. "Ele causa, no máximo, irritações leves."


Colaborou KLEBER TOMAZ, da Reportagem Local

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