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Grafiteiros acusam prefeitura de implantar política antigrafite
Grupo diz que a administração de Gilberto Kassab (DEM) apaga desenhos feitos em áreas públicas de São Paulo; governo declarou que não há perseguição
JOÃO WAINER
DA REVISTA DA FOLHA
Depois de passar um mês na
Escócia grafitando um castelo
medieval construído em 1200,
os irmãos Gustavo e Otávio
Pandolfo, 33 -conhecidos como Osgemeos- e Karina Arcênio Pandolfo, 30, a Nina (mulher de Otávio), desembarcaram em São Paulo no último dia
16, sábado à tarde, e sofreram
um choque de realidade. A prefeitura da cidade que toda a vida foi para eles uma enorme tela em branco hoje pinta sistematicamente de cinza os muros
públicos grafitados pelo trio.
No domingo passado, ainda
sob efeito do fuso-horário, Osgemeos e Nina juntaram-se aos
também grafiteiros Ise e Koyo
para pintar muros da cidade como fazem desde 1987.
Nos pilares do viaduto Antártica, na zona oeste, Osgemeos
desenharam uma série de cinco
bonecos. Nina fez duas meninas enquanto Ise e Koyo escreveram seus nomes.
Os desenhos duraram menos
de 16 horas na parede. Nem
bem a tinta secou e no dia seguinte as pilastras amanheceram cobertas de cinza.
Num intervalo de quatro meses, essa rotina se repetiu sete
vezes. Camelôs e pedestres ouvidos pela reportagem afirmam
que funcionários da prefeitura
fizeram o serviço de cobertura.
O secretário da coordenação
das Subprefeituras de São Paulo, Andréa Matarazzo, nega a
perseguição aos grafites. "Não
existe nenhuma política ou iniciativa nossa para cobertura de
grafites; há, sim, uma rotina de
limpeza da cidade. Acontece
que os grafiteiros também têm
uma rotina de pintar, por isso
alguns podem ter sido apagados. Mas não quer dizer que foi
a prefeitura que cobriu o grafite
do viaduto Matarazzo, pode ter
sido a empresa que a prefeitura
contrata para pintar o viaduto,
por exemplo", diz.
O prefeito Gilberto Kassab
deve sancionar em breve projeto de lei aprovado na Câmara
que institui um programa antipichação, cujo texto prevê que
donos de imóveis com pichação
poderão obter recursos da prefeitura para pintar suas fachadas. O texto da lei não distingue
pichação de grafite.
Peso de ouro
Enquanto a prefeitura apaga,
outros contratam os artistas. A
escocesa Alice Boyle, filha do
lorde de Glasgow Patrick Boyle,
que convidou Osgemeos, Nunca e Nina para grafitar o castelo
de Kelburn, diz que qualquer
cidade da Europa adoraria ter
nas paredes desenhos do tipo.
Na galeria Fortes Vilaça, em
São Paulo, todas as obras foram
vendidas na exposição d'Osgemeos, que em dois meses em
2006 foi visitada por mais de 30
mil pessoas, recorde da galeria.
Apesar das dificuldades e de
o grafite ser considerado prática ilegal em São Paulo (com pena de três meses a um ano), os
grafiteiros seguem pintando
nas ruas. "Por mais que nossos
trabalhos estejam nas galerias,
nunca vamos desistir de pintar
na rua. Essa é a verdadeira essência do grafite", dizem, em
coro, os gêmeos. "Por mais que
o novo prefeito apague, não vamos parar de mostrar para o
povo de São Paulo nossa arte."
Para Matarazzo, nem todos
têm de gostar de grafite. "É como alguém que não gosta de
quadros em casa."
Guilherme Aranha, 30, coordenador da juventude da atual
gestão, acredita que São Paulo
tolera mais o grafite do que outras metrópoles. "Em Madri,
que conheço muito bem, não
existe espaço para pintar na
rua. Em Londres, então, eles
seriam presos. Aqui, somos
bem democráticos."
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