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O melhor produto do Brasil é a gestão da pobreza, diz filósofo
DO COORDENADOR DE ARTIGOS E EVENTOS
O melhor produto do Brasil é
a gestão da pobreza. E a atuação
do governador de São Paulo,
José Serra (PSDB), na área da
educação sugere que ele está
correndo atrás de um dos achados de Luiz Inácio Lula da Silva
(PT): o ProUni, a política de inclusão social por meio de bolsas
universitárias.
Ao discutir o papel que o governo Lula tem no cenário de
irrelevância da política, o filósofo Paulo Arantes e os sociólogos Francisco de Oliveira e Laymert Garcia dos Santos afirmam que o êxito da política
educacional do governo federal
é apenas aparente e opera numa lógica perversa, pois conquista amplo apoio social e praticamente anula a possibilidade
de oposição, mas não leva o país
a lugar nenhum.
"O ProUni é um achado. Estamos no "best practice" de políticas públicas para países
emergentes sem solução, que
têm populações eternamente
pobres que têm de ser administradas. É um negócio que poderia ser vendido no mundo inteiro pelo Banco Mundial: como
gerir 200 milhões de pessoas
sem conflito", afirma Arantes.
A perversidade do ProUni,
segundo os três, está no fato de
que ele conquista pelo sonho de
vida da maior parte dos jovens
pobres, que é o ensino superior.
Ou seja, é difícil ser contra.
Na outra ponta, porém, o que
se oferece é um sistema educacional falido, incapaz de operar
uma verdadeira transformação
social. O indivíduo formado em
universidades ruins tem sua vida cada vez mais precarizada.
Ao mesmo tempo, o país quase
não tem condição de competir
na era do conhecimento.
"O papel do governo Lula é
uma forma de dominação que
estou chamando de hegemonia
às avessas. Ele capturou o movimento social e o leva a uma
espécie de eutanásia, a uma
condução política em sentido
inteiramente contrário aos interesses dessa larga base social", afirma Oliveira.
"O acerto dessas políticas é
total. Mas sabemos que não leva a lugar nenhum. É para gerir
a massa que vai ficar estacionada no lugar. E os tucanos não
descobriram isso. Agora estão
percebendo. Serra está tentando correr atrás da gestão da população escolar", diz Arantes.
"No Brasil, temos uma ciência e tecnologia em regressão e
um mundo em extrema aceleração. O país está perdendo o
bonde da era do conhecimento.
É preciso discutir a sério o papel das universidades e da pesquisa", diz Laymert.
Nesse jogo de cena, eles dizem que o governo finge estar
investindo em tecnologia e o
setor produtivo finge querer
esse investimento. Mas, na verdade, não quer. Sabe-se que é
muito caro e arriscado tentar
desenvolver a própria tecnologia. Compensa mais comprar o
produto pronto.
Assim, uma parte lamentável
da crise na USP, para eles, foi o
fato de ter havido pouca discussão até agora sobre a questão da
tecnologia, muito embora o
"gancho" fosse evidente.
Um dos decretos de Serra separou a Fapesp, órgão estadual
de fomento à pesquisa, da pasta
a que estão vinculadas as universidades. Outro enfatizava a
pesquisa operacional -o termo
foi posteriormente revogado.
"É uma gestão errática, enigmática, porque é secreta. O que
se passa na cabeça do governador? A não ser quebrar patente
de remédio para Aids no Ministério da Saúde, o que esse rapaz
fez nos últimos 12 anos no Brasil? O que o Serra pensa sobre
Brasil, América Latina, capitalismo? Ninguém sabe", afirma
Arantes.
(UM)
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