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VIGÁRIO GERAL
Segundo o Ministério Público, que fez o pedido, há suspeita de que fita que incrimina 19 réus seja uma "armação"
Justiça absolve nove acusados de chacina
FABIANA CIMIERI
DA SUCURSAL DO RIO
A Justiça absolveu ontem nove
dos 52 acusados da chacina de Vigário Geral. A absolvição foi pedida até pelo Ministério Público, encarregado da acusação, porque há
a suspeita de que a fita usada como prova para a acusação dos nove réus de ontem seria uma armação para absolver outros réus do
processo.
Há dez anos, no dia 30 de agosto
de 1993, um grupo de policiais militares invadiu a favela e matou 21
pessoas. A chacina foi uma vingança pela morte de quatro PMs,
assassinados por traficantes dois
dias antes.
Para facilitar o julgamento do
caso, o processo contra os 52 acusados foi dividido em duas fases.
Na primeira, são acusados 33 pessoas. Na segunda fase, há 19 suspeitos. Os nove suspeitos julgados
ontem fazem parte da segunda fase do processo.
Eles foram acusados por causa
de uma fita gravada em 1995 na
prisão por dez policiais condenados pelo crime na primeira fase
do processo. Em seu discurso, o
promotor Paulo Rangel disse que
a fita que incriminava 19 pessoas,
entre elas os nove réus, era uma
""armação". De acordo com Rangel, a gravação da fita foi feita pelo
tenente-coronel Emir Laranjeiras,
então comandante do 9º BPM,
que não queria ver seu nome envolvido na chacina porque "tinha
pretensões eleitorais".
A maioria dos 33 acusados na
primeira fase pertencia ao batalhão que Laranjeiras comandava.
O coronel foi quem levou o gravador aos acusados. Eles próprios
gravaram a conversa em que acusavam outros 19 policiais militares pela chacina.
Laranjeiras, na época eleito deputado estadual pelo PSB, entregou a fita ao então promotor do
caso, o ex-procurador-geral de
Justiça José Muiños Piñeiro.
Por causa dessa fita, dez dos 33
acusados na primeira fase foram
absolvidos em 1997. O discurso
do Ministério Público surpreendeu a defesa, mas os advogados
dos réus confiavam na absolvição:
""Não havia nada contra o meu
cliente além dessa fita absurda",
disse Edilon de Oliveira que defende o PM Pedro Flávio da Costa.
O advogado do soldado Marcelo Amaro, Mario Cyfer, disse
acreditar que as 19 pessoas acusadas na fase dois foram apontadas
aleatoriamente. Desses, nove foram absolvidas ontem, oito não
foram a julgamento pois tinham
álibi, um morreu e outro aguarda
julgamento de recurso.
Os nove julgados ontem, além
de Costa e Amaro, são os PMs
Edison Barbosa, André Luiz Silva,
Sidinei de Oliveira, Luiz Carlos da
Silva, Marcos Gomes, Carlos Teixeira e Marcelo Sarmento.
A comerciaria Lúcia Helena
Costa, 47, irmã de Costa, comemorou o resultado: ""Foi feita justiça". Segundo ela, seu irmão ficou preso por seis anos e sete meses por causa da fita.
A evangélica Vera Lúcia dos
Santos, 40, que perdeu oito parentes na matança, também ficou satisfeita. ""A Justiça é meio lenta,
mas a partir deste julgamento o
processo terá uma mudança."
A assistente de promotoria,
Cristina Leonardo, advogada dos
parentes das vítimas, disse que o
julgamento de ontem foi um passo importante para condenar os
dez absolvidos por causa da fita.
Dos 33 acusados na primeira fase, só dois foram condenados e
cumprem pena. Cinco morreram,
três estão foragidos, três foram
soltos por habeas corpus, um não
foi julgado por falta de provas, um
ainda aguarda julgamento e dezoito foram absolvidos.
A Folha tentou, sem sucesso,
entrar em contato com o tenente-coronel Emir Laranjeira.
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