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CONVÊNIOS
Principal medida já acordada é a possibilidade de o cliente mudar de empresa sem perder carências contratuais já cumpridas
ANS quer acirrar concorrência entre planos
FABIANE LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL
Os cinco diretores da ANS
(Agência Nacional de Saúde Suplementar) já chegaram a um
consenso para propor ao Congresso a mudança de quase uma
dezena de pontos da lei 9.656, que
rege os seguros e planos de saúde.
A informação foi dada anteontem
pela diretora de fiscalização do órgão, Maria Stella Gregori.
Do que já foi decidido, o que deve causar maior impacto é a permissão para que beneficiários
mudem de prestadora do serviço
-a operadora do plano ou seguradora de saúde- e "levem" as
carências já cumpridas no contrato da empresa anterior.
A mudança garantiria maior
concorrência no setor. Hoje, muitos clientes acabam aceitando
condições dos planos que lhes desagradam por temer sair e ter de
cumprir novas carências -prazo
após o qual a empresa passa a cobrir os custos de determinados
procedimentos médicos.
Algumas empresas já aceitam
carências cumpridas em planos
anteriores, mas isso por conta de
uma negociação com o consumidor -e que deve ser assegurada
no contrato entre as partes.
A diretoria da ANS pretendia
entregar a proposta da nova lei já
neste semestre, mas o processo
está atrasado, já admitiu o diretor-presidente da agência, Fausto
Pereira dos Santos. Isso principalmente por causa da confusão sobre os reajustes de até 82% nos
planos antigos -assinados antes
de 1999- e o programa de adequação desses contratos à lei
atual, diz a agência.
A ANS também buscará, no
projeto de lei, algum tipo de medida para evitar aumentos abusivos nos planos antigos.
As mudanças na lei são defendidas principalmente porque, hoje,
mesmo quem está protegido pela
lei 9.656 enfrenta problemas, como negativas de cobertura de determinados tratamentos.
A principal mudança já acordada, a chamada "mobilidade com
portabilidade" -sair da empresa
e levar as carências-, é defendida
pelo diretor-presidente da ANS
desde que ele assumiu o órgão,
em janeiro deste ano.
Seus outros quatro colegas da
diretoria colegiada tiveram uma
posição "bastante favorável" em
uma recente série de seminários
internos sobre as mudanças na
lei, informou Gregori.
Segundo a diretora, outro ponto
que já tem consenso é o fim da limitação de 12 horas de cobertura
para o atendimento de urgências
e emergências nos planos ambulatoriais, que só cobrem procedimentos como consultas.
Ela afirmou que também já foram acolhidas outras das principais reivindicações dos órgãos de
defesa do consumidor feitas na
CPI dos planos e no fórum de saúde suplementar, no ano passado,
como a redução de carências para
doenças preexistentes, o fim da
exigência de cheque-caução para
o atendimento e o fim do agravo.
Planos com agravo são produtos mais caros ofertados a pessoas
que declarem ter uma doença ao
assinar o contrato. É opção às carências para as lesões preexistentes, mas têm preços tão altos que
inviabilizam o acesso a eles. Muitas empresas simplesmente não
ofertam o produto.
A Fenaseg (entidade que reúne
as seguradoras) preferiu não comentar os pontos que já têm concordância na ANS. Em entrevista
recente à Folha, o diretor de saúde da Fenaseg, Horácio Catapreta,
disse que a entidade quer uma
consolidação das leis do setor.
De acordo com Gregori, no entanto, ainda não há consenso sobre questões cobradas pelos consumidores, como mais rigor para
o registro de empresas, mais controle social sobre o setor, além da
reivindicação de a agência regular
pontos importantes dos contratos
coletivos -o órgão não controla
reajustes nesses casos e não há limite à rescisão unilateral deles.
"É absolutamente necessário. E
com esse inferno todo, parece que
vai acabar o plano individual",
afirma André Luiz Lopes dos Santos, diretor de atendimento do
Procon de São Paulo, em referência aos aumentos considerados
abusivos nos planos individuais.
Hoje, a maioria dos mais de 38
milhões de clientes com planos e
seguros de saúde no país tem contratos coletivos.
A mobilidade com portabilidade é defendida pelos órgãos de defesa do consumidor "porque não
existe concorrência real" no setor,
diz o diretor do Procon. Santos teme, no entanto, perder conquistas na discussão no Congresso.
"Pode ter lobby [das operadoras].
Aliás, vai ter."
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