São Paulo, sábado, 24 de julho de 2004

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VIOLÊNCIA

Morte de garota foi dada como esclarecida, mas investigação foi retomada

Polícia Militar não apresenta cabo suspeito de assassinato

GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL

Apesar de o PM suspeito de matar uma garota de 13 anos estar "à sua disposição", a Corregedoria da Polícia Militar de São Paulo não o apresentou ontem à Polícia Civil para ele que fosse submetido à reconhecimento formal das testemunhas do crime.
Também houve mudanças na linha da investigação do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), que apura o caso e chegou a dar o crime como esclarecido anteontem e que, ontem, voltou atrás.
"Até agora, todos os atos da PM não indicam colaboração. Muito pelo contrário", afirmou ontem o ouvidor da polícia paulista, Itajiba Farias Ferreira Cravo. "A Ouvidoria também esperava que o DHPP cumprisse a decisão de pedir a prisão do suspeito, porque há indícios para isso."
Por foto, duas testemunhas apontaram um cabo da PM como o autor do disparo que atingiu a garota no último domingo, na favela do Mangue, em Sapopemba (zona leste de São Paulo). O reconhecimento estava marcado para as 15h, no DHPP.
O cabo, no entanto, não foi levado ao local pela PM, apesar de já estar à disposição da Corregedoria. A PM disse, segundo o relato dado pelo DHPP ao ouvidor da polícia, que só o cabo foi localizado e que os outros policiais suspeitos de acompanhá-lo no crime não foram encontrados. Todos os policiais seriam apresentados ao mesmo tempo, em outra ocasião.
"Essa desculpa é pífia. Foi o cabo que foi reconhecido, por foto, pelas testemunhas. Enquanto a questão não se resolve, os moradores da favela, que dizem que já foram ameaçados, ficam à mercê de outras arbitrariedades", diz o ouvidor da polícia.
A assessoria da Secretaria da Segurança Pública deu outra versão para a não-apresentação do cabo: o policial estava sendo ouvido na Corregedoria da PM no mesmo horário. O cabo está "à disposição" da Corregedoria, segundo a secretaria, mas não está sob prisão administrativa.
"Em casos de homicídios dolosos [com intenção], cabe à Polícia Civil a apuração da autoria. Ela tem prioridade", critica Cravo.
As testemunhas reuniram-se em uma entidade de direitos humanos. Iriam ao DHPP assim que o PM fosse apresentado. Como isso não ocorreu, voltaram para suas casas, um dia depois de vários moradores afirmarem terem sido ameaçados por outros PMs.

Mudanças
A Polícia Civil também mudou de posição sobre o resultado das investigações. Em nota oficial anteontem, divulgada pela Secretaria da Segurança Pública, o diretor do DHPP, Domingos Paulo Neto, informou que o caso já estava esclarecido e que a prisão temporária do policial militar seria solicitada ontem à Justiça.
Ontem, porém, outra nota divulgada, agora assinada pela assessoria de comunicação da mesma secretaria, desmente a primeira. "A investigação criminal está em andamento no DHPP e também a Corregedoria da Polícia Militar continua procedendo a apuração. Após análise de todos os subsídios coletados, será feito pedido de prisão temporária do suspeito", diz a nota.
Segundo a secretaria, a prisão do cabo não foi pedida porque a polícia resolveu analisar melhor os "subsídios" da investigação. O caso, ao contrário da primeira nota, não estaria esclarecido. A assessoria não informou, no entanto, se houve um fato novo que provocou a mudança de posição.


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