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Sindicato das companhias aéreas prevê demitir 30% neste ano
Medidas do governo federal para o setor aéreo deixarão companhias ociosas, segundo diretor do sindicato patronal
Para José de Anchieta Hélcias, representante da TAM, as passagens ficarão mais caras e as classes C e D serão prejudicadas
MÔNICA BERGAMO
COLUNISTA DA FOLHA
As empresas aéreas podem
demitir até 30% de seus funcionários neste ano. A passagem
de avião vai ficar mais cara e as
classes C e D, que foram beneficiadas pela baixa da tarifa nos
últimos quatro anos, terão agora mais dificuldades para andar
de avião.
A avaliação é de José de Anchieta Hélcias, secretário-executivo do Snea (Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias) e representante da TAM
em Brasília.
Hélcias disse ontem que as
empresas vão se reunir nos
próximos dias no sindicato para avaliar o pacote que Lula
anunciou após o acidente do
Airbus. Mas ele diz que já tem
condições de antecipar que "o
impacto das medidas do governo federal será muito forte" e
que "o modelo de popularização do transporte aéreo ruiu".
"O presidente determinou a
diminuição dos vôos para Congonhas. É só fazer a conta: o aeroporto atendia 20 milhões de
passageiros por ano. Passará a
atender 10 milhões. Guarulhos
já está totalmente lotado e tem
condições de absorver 2 milhões; Viracopos, em Campinas, mais 1 milhão. Ou seja, sobram 7 milhões de passageiros
que terão que ser cortados do
sistema."
O executivo conclui: "As
companhias vão voar menos.
Portanto, vão ter que devolver
aeronaves. E demitir funcionários. Num cálculo grosseiro, será um corte linear de 30%, de
pessoal e de equipamentos".
A Folha insistiu sobre o percentual. Hélcias afirmou: "Se
você tem três carros, com três
motoristas, e um dos carros
deixa de circular, quantos motoristas você tem que demitir?". Com o número menor de
vôos e de passageiros, diz ele,
"vão sobrar pilotos, aeromoças
e pessoal de atendimento em
terra".
Ele afirma que as empresas
ainda não tomaram a decisão
de desligar funcionários. "Estamos recebendo informações
das companhias aéreas e
aguardando a publicação das
medidas. Mas infelizmente não
terá como fugir disso. Empresa
de aviação não é Santa Casa de
Misericórdia."
Segundo Hélcias, "as empresas, é claro, não querem e vão
fazer de tudo para não demitir.
O custo de treinamento de cada piloto é de US$ 150 mil. São
investimentos que fizemos nas
equipes e que serão jogados fora, sem contar no aspecto humano das demissões".
Uma outra medida do pacote
aéreo de Lula, impedindo que
as empresas tenham em Congonhas o seu "hub" (centro de
distribuição de vôos), vai ocasionar aumento de custos e
conseqüente aumento de tarifas, diz o secretário do Snea. "A
base do mercado é São Paulo.
Mais de 40% dos passageiros
de todo o Brasil desembarcam
ou embarcam na cidade", diz.
"Modelo popular ruiu"
De acordo com ele, "a centralização em Congonhas, com conexões para todo o país, permitia um maior aproveitamento
de aeronaves. Estávamos voando 14 horas por dia, contra 7 horas na década passada. O aproveitamento nas aeronaves era
de 70%, quase como nos EUA,
de 80%. Foi isso o que proporcionou uma queda de 33% nas
passagens, que neste ano chegaria a 40%. Os passageiros das
classes C e D serão penalizados.
O modelo popular do negócio
ruiu. Voltaremos a ter uma
aviação elitizada".
Hélcias diz que as empresas
cumpriram seu papel, investindo, contratando e diminuindo
as tarifas. Para ele, a falha é do
governo. "Até outubro [antes
do acidente da Gol], nossa pontualidade era de 98% dos vôos.
Depois, os controladores passaram a controlar só 14 movimentos [de aeronaves no ar],
quando poderiam controlar 24.
Sabia que [o governo federal]
precisa contratar 600 controladores? Isso não é nossa responsabilidade."
Ele afirma ainda não acreditar que os problemas de infra-estrutura de aeroportos sejam
resolvidos antes que as empresas precisem demitir. "Como
vai construir uma terceira pista
em Guarulhos se 20 mil famílias invadiram o lugar em que
ela seria construída? E se já tem
outras 8 mil famílias em cima
de Viracopos?"
O executivo diz também que
não houve, por parte das companhias, descuido com a segurança em busca de um lucro
maior. "Seria loucura, a segurança é tudo." Hélcias diz acreditar que o Airbus-A320 da
TAM que se acidentou voava
em condições seguras. "Vamos
aguardar a investigação, é ela
que vai dizer."
O fato de só depois do acidente os pilotos da TAM, autorizados pela companhia, virem a
público falar mal da pista de
Congonhas não mostra que
eram irresponsáveis nem trabalhavam pressionados pelas
empresas ao pousar no local
mesmo em condições que sabiam ser de risco? "Eles acreditavam nas informações da Infraero, de que a pista é segura. E
agora não acreditam mais."
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