São Paulo, terça-feira, 24 de julho de 2007

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Sindicato das companhias aéreas prevê demitir 30% neste ano

Medidas do governo federal para o setor aéreo deixarão companhias ociosas, segundo diretor do sindicato patronal

Para José de Anchieta Hélcias, representante da TAM, as passagens ficarão mais caras e as classes C e D serão prejudicadas

MÔNICA BERGAMO
COLUNISTA DA FOLHA

As empresas aéreas podem demitir até 30% de seus funcionários neste ano. A passagem de avião vai ficar mais cara e as classes C e D, que foram beneficiadas pela baixa da tarifa nos últimos quatro anos, terão agora mais dificuldades para andar de avião.
A avaliação é de José de Anchieta Hélcias, secretário-executivo do Snea (Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias) e representante da TAM em Brasília.
Hélcias disse ontem que as empresas vão se reunir nos próximos dias no sindicato para avaliar o pacote que Lula anunciou após o acidente do Airbus. Mas ele diz que já tem condições de antecipar que "o impacto das medidas do governo federal será muito forte" e que "o modelo de popularização do transporte aéreo ruiu".
"O presidente determinou a diminuição dos vôos para Congonhas. É só fazer a conta: o aeroporto atendia 20 milhões de passageiros por ano. Passará a atender 10 milhões. Guarulhos já está totalmente lotado e tem condições de absorver 2 milhões; Viracopos, em Campinas, mais 1 milhão. Ou seja, sobram 7 milhões de passageiros que terão que ser cortados do sistema."
O executivo conclui: "As companhias vão voar menos. Portanto, vão ter que devolver aeronaves. E demitir funcionários. Num cálculo grosseiro, será um corte linear de 30%, de pessoal e de equipamentos".
A Folha insistiu sobre o percentual. Hélcias afirmou: "Se você tem três carros, com três motoristas, e um dos carros deixa de circular, quantos motoristas você tem que demitir?". Com o número menor de vôos e de passageiros, diz ele, "vão sobrar pilotos, aeromoças e pessoal de atendimento em terra".
Ele afirma que as empresas ainda não tomaram a decisão de desligar funcionários. "Estamos recebendo informações das companhias aéreas e aguardando a publicação das medidas. Mas infelizmente não terá como fugir disso. Empresa de aviação não é Santa Casa de Misericórdia."
Segundo Hélcias, "as empresas, é claro, não querem e vão fazer de tudo para não demitir. O custo de treinamento de cada piloto é de US$ 150 mil. São investimentos que fizemos nas equipes e que serão jogados fora, sem contar no aspecto humano das demissões".
Uma outra medida do pacote aéreo de Lula, impedindo que as empresas tenham em Congonhas o seu "hub" (centro de distribuição de vôos), vai ocasionar aumento de custos e conseqüente aumento de tarifas, diz o secretário do Snea. "A base do mercado é São Paulo. Mais de 40% dos passageiros de todo o Brasil desembarcam ou embarcam na cidade", diz.

"Modelo popular ruiu"
De acordo com ele, "a centralização em Congonhas, com conexões para todo o país, permitia um maior aproveitamento de aeronaves. Estávamos voando 14 horas por dia, contra 7 horas na década passada. O aproveitamento nas aeronaves era de 70%, quase como nos EUA, de 80%. Foi isso o que proporcionou uma queda de 33% nas passagens, que neste ano chegaria a 40%. Os passageiros das classes C e D serão penalizados. O modelo popular do negócio ruiu. Voltaremos a ter uma aviação elitizada".
Hélcias diz que as empresas cumpriram seu papel, investindo, contratando e diminuindo as tarifas. Para ele, a falha é do governo. "Até outubro [antes do acidente da Gol], nossa pontualidade era de 98% dos vôos. Depois, os controladores passaram a controlar só 14 movimentos [de aeronaves no ar], quando poderiam controlar 24. Sabia que [o governo federal] precisa contratar 600 controladores? Isso não é nossa responsabilidade."
Ele afirma ainda não acreditar que os problemas de infra-estrutura de aeroportos sejam resolvidos antes que as empresas precisem demitir. "Como vai construir uma terceira pista em Guarulhos se 20 mil famílias invadiram o lugar em que ela seria construída? E se já tem outras 8 mil famílias em cima de Viracopos?"
O executivo diz também que não houve, por parte das companhias, descuido com a segurança em busca de um lucro maior. "Seria loucura, a segurança é tudo." Hélcias diz acreditar que o Airbus-A320 da TAM que se acidentou voava em condições seguras. "Vamos aguardar a investigação, é ela que vai dizer."
O fato de só depois do acidente os pilotos da TAM, autorizados pela companhia, virem a público falar mal da pista de Congonhas não mostra que eram irresponsáveis nem trabalhavam pressionados pelas empresas ao pousar no local mesmo em condições que sabiam ser de risco? "Eles acreditavam nas informações da Infraero, de que a pista é segura. E agora não acreditam mais."


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