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depoimento
No hospital, nem médico sabe o que fazer
DENISE CHIARATO
EDITORA-ADJUNTA DE COTIDIANO
Foi na noite de domingo
que eu percebi que havia algo
mesmo errado com aquela
gripe até então conhecida,
que aparece umas duas ou
três vezes por ano: a febre
-rápida e assustadora.
Como não passava, achei
que era hora de procurar o
hospital. Na madrugada da
segunda, o hospital Nove de
Julho estava praticamente
deserto. Depois de passar pela triagem (febre de 38,5C),
o médico veio.
"Será gripe suína?", perguntei, já me sentindo histérica. O médico fez cara de
não, disse que como eu não
havia deixado o país nem tido contato com quem esteve
fora não havia risco. Mas a
certeza dele veio abaixo ao se
deparar com a mancha no
pulmão exposta no raio-X.
"Bem, então, pode ser...."
Disse que ia notificar o
meu caso como suspeito à
Vigilância Sanitária e que
eles, da vigilância, iriam entrar em contato comigo. Foi
só aí que eu recebi uma máscara (antes estava em uma
sala sem proteção nenhuma)
e me isolaram.
O médico ia e vinha na sala,
agora com ar preocupado.
Primeiro falou que iria me
passar um antibiótico, depois decidiu não me dar medicamento nenhum para não
mascarar os sintomas.
Depois da dipirona, do soro e de responder a um questionário sobre em que dia e
em qual aeroporto estive (o
número do voo e o horário,
nem pensar), fui para casa.
Na manhã da terça, a ficha
caiu. Que história é essa de a
vigilância me procurar? Liguei para o próprio Nove de
Julho, e, várias ligações depois, disseram que o procedimento estava errado, que
não existe essa história da vigilância e que eles só fazem o
tal exame da gripe suína em
casos graves.
Ok, mas e o fato de eu estar
com uma mancha no pulmão
e sem remédio? "Senhora,
aguarde mais um pouco"... e
estou aguardando até hoje.
Decidi ir para o Oswaldo
Cruz, onde há uma unidade
só para casos de gripe e você
só entra de máscara.
O problema é que os pacientes ficam mais de quatro
horas e não há máscara que
resista. Nova triagem, novo
médico, exames de sangue,
novo raio-X...
Na sala lotada, vê-se de tudo. Gente muito mal, esperando horas... Duas amigas
posando para o celular de
máscaras, rindo.
Na volta para o segundo
médico -o primeiro já havia
ido embora-, novo diagnóstico: quadro claro de pneumonia. Mas e a gripe? "Esquece", disse, "vamos tratar
sua pneumonia". Bem, então
comecei o tratamento -repouso e antibiótico por sete
dias. Pelo menos não terei de
sair de máscara... no dia em
que conseguir sair.
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