São Paulo, sexta-feira, 24 de julho de 2009

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depoimento

No hospital, nem médico sabe o que fazer

DENISE CHIARATO
EDITORA-ADJUNTA DE COTIDIANO

Foi na noite de domingo que eu percebi que havia algo mesmo errado com aquela gripe até então conhecida, que aparece umas duas ou três vezes por ano: a febre -rápida e assustadora.
Como não passava, achei que era hora de procurar o hospital. Na madrugada da segunda, o hospital Nove de Julho estava praticamente deserto. Depois de passar pela triagem (febre de 38,5C), o médico veio.
"Será gripe suína?", perguntei, já me sentindo histérica. O médico fez cara de não, disse que como eu não havia deixado o país nem tido contato com quem esteve fora não havia risco. Mas a certeza dele veio abaixo ao se deparar com a mancha no pulmão exposta no raio-X. "Bem, então, pode ser...."
Disse que ia notificar o meu caso como suspeito à Vigilância Sanitária e que eles, da vigilância, iriam entrar em contato comigo. Foi só aí que eu recebi uma máscara (antes estava em uma sala sem proteção nenhuma) e me isolaram.
O médico ia e vinha na sala, agora com ar preocupado. Primeiro falou que iria me passar um antibiótico, depois decidiu não me dar medicamento nenhum para não mascarar os sintomas.
Depois da dipirona, do soro e de responder a um questionário sobre em que dia e em qual aeroporto estive (o número do voo e o horário, nem pensar), fui para casa.
Na manhã da terça, a ficha caiu. Que história é essa de a vigilância me procurar? Liguei para o próprio Nove de Julho, e, várias ligações depois, disseram que o procedimento estava errado, que não existe essa história da vigilância e que eles só fazem o tal exame da gripe suína em casos graves.
Ok, mas e o fato de eu estar com uma mancha no pulmão e sem remédio? "Senhora, aguarde mais um pouco"... e estou aguardando até hoje.
Decidi ir para o Oswaldo Cruz, onde há uma unidade só para casos de gripe e você só entra de máscara.
O problema é que os pacientes ficam mais de quatro horas e não há máscara que resista. Nova triagem, novo médico, exames de sangue, novo raio-X...
Na sala lotada, vê-se de tudo. Gente muito mal, esperando horas... Duas amigas posando para o celular de máscaras, rindo.
Na volta para o segundo médico -o primeiro já havia ido embora-, novo diagnóstico: quadro claro de pneumonia. Mas e a gripe? "Esquece", disse, "vamos tratar sua pneumonia". Bem, então comecei o tratamento -repouso e antibiótico por sete dias. Pelo menos não terei de sair de máscara... no dia em que conseguir sair.


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