São Paulo, quarta-feira, 24 de agosto de 2005

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BATALHA URBANA

A PM usou bombas de gás lacrimogêneo contra manifestantes em reintegração de posse, que atiraram coquetéis molotov

Sem-teto e policiais se enfrentam em Recife

FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM RECIFE

A reintegração de posse de um imóvel de três pavimentos transformou ontem a região do centro antigo de Recife em uma praça de guerra por cerca de cinco horas.
Um grupo de 32 sem-teto ligados ao Movimento de Luta e Resistência Popular entrou em confronto com policiais militares, que terminou com três pessoas feridas e cinco presas.
Garrafas e coquetéis molotov foram lançados pelos sem-teto contra a polícia, que respondeu com balas de borracha e bombas de gás lacrimogêneo. Para tentar conter a ação policial, os sem-teto exibiram crianças das janelas.
O conflito ocorreu durante o cumprimento de uma ordem judicial de reintegração de posse do imóvel, invadido pelo grupo há quatro meses. Os sem-teto não atenderam os oficiais de Justiça encarregados de notificá-los da decisão. A PM foi acionada e enviou um carro com três homens ao local. Os invasores atearam fogo em um pneu e ergueram uma barricada na entrada do prédio.
Das janelas do segundo e terceiro pisos, os manifestantes, com os rostos cobertos, passaram a jogar pedras contra os policiais. Um oficial de Justiça e um PM foram atingidos. O carro da corporação teve um vidro quebrado. "Não vamos sair", gritavam.
Diante da resistência, a Tropa de Choque foi mobilizada. Ao chegar ao local, também foi recebida a pedradas. Garrafas e coquetéis molotov foram lançados das janelas. Os policiais atiraram balas de borracha e bombas de gás lacrimogêneo.
As lojas fecharam. Houve gritos e correria. A PM continuou a avançar e tentou desbloquear a entrada do imóvel. Os invasores atearam fogo nas barricadas. O incêndio se alastrou e, sem opção, o grupo se refugiou no prédio dos fundos. Encurralados pelo fogo e pela fumaça, os sem-teto se entregaram e foram resgatados pelos policiais. Os bombeiros foram chamados e conseguiram controlar o incêndio por volta das 15h.
Um dos supostos líderes do grupo, Marcelo Gerson de Paula, 34, tinha um ferimento na cabeça e foi socorrido. Nenhum dos feridos corre risco de morte.
Os invasores -16 homens, dez mulheres e seis crianças- foram levados à delegacia da Polícia Civil de Santo Amaro, a dois quilômetros da área do conflito.
Após triagem, cinco deles foram autuados em flagrante e presos, sob acusação de formação de quadrilha, resistência à ordem judicial e à prisão, desacato, incitação ao crime, lesão corporal e por danificar e incendiar o prédio.
"Eles não podem ser qualificados de marginais", disse o advogado de quatro dos acusados, José do Egito Negreiros Fernandes. Segundo ele, três presos disseram que não participaram do confronto. Seu quarto cliente teria sido detido ao passar pelo local.
O confronto de ontem foi o maior ocorrido neste ano em Pernambuco envolvendo sem-teto. No dia 2 de maio, cerca de 300 integrantes do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), maior entidade de defesa dos sem-teto, tomou um casarão pertencente à Cruz Vermelha (zona norte de Recife). O imóvel já havia sido invadido pelo grupo há dois anos. Em outubro de 2004, eles foram retirados do local.
No dia 4 de maio, o MTST invadiu uma área da extinta Cibrazen (Companhia Brasileira de Armazenamento), em Caruaru. Na mesma data, famílias da Vila Imperial, ligadas à OLMT (Organização e Luta dos Movimentos Populares), invadiram a Prefeitura de Recife para pedir a reapropriação da área e auxílio-moradia.


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