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BATALHA URBANA
A PM usou bombas de gás lacrimogêneo contra manifestantes em reintegração de posse, que atiraram coquetéis molotov
Sem-teto e policiais se enfrentam em Recife
FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM RECIFE
A reintegração de posse de um
imóvel de três pavimentos transformou ontem a região do centro
antigo de Recife em uma praça de
guerra por cerca de cinco horas.
Um grupo de 32 sem-teto ligados ao Movimento de Luta e Resistência Popular entrou em confronto com policiais militares,
que terminou com três pessoas feridas e cinco presas.
Garrafas e coquetéis molotov
foram lançados pelos sem-teto
contra a polícia, que respondeu
com balas de borracha e bombas
de gás lacrimogêneo. Para tentar
conter a ação policial, os sem-teto
exibiram crianças das janelas.
O conflito ocorreu durante o
cumprimento de uma ordem judicial de reintegração de posse do
imóvel, invadido pelo grupo há
quatro meses. Os sem-teto não
atenderam os oficiais de Justiça
encarregados de notificá-los da
decisão. A PM foi acionada e enviou um carro com três homens
ao local. Os invasores atearam fogo em um pneu e ergueram uma
barricada na entrada do prédio.
Das janelas do segundo e terceiro pisos, os manifestantes, com os
rostos cobertos, passaram a jogar
pedras contra os policiais. Um
oficial de Justiça e um PM foram
atingidos. O carro da corporação
teve um vidro quebrado. "Não vamos sair", gritavam.
Diante da resistência, a Tropa
de Choque foi mobilizada. Ao
chegar ao local, também foi recebida a pedradas. Garrafas e coquetéis molotov foram lançados
das janelas. Os policiais atiraram
balas de borracha e bombas de
gás lacrimogêneo.
As lojas fecharam. Houve gritos
e correria. A PM continuou a
avançar e tentou desbloquear a
entrada do imóvel. Os invasores
atearam fogo nas barricadas. O
incêndio se alastrou e, sem opção,
o grupo se refugiou no prédio dos
fundos. Encurralados pelo fogo e
pela fumaça, os sem-teto se entregaram e foram resgatados pelos
policiais. Os bombeiros foram
chamados e conseguiram controlar o incêndio por volta das 15h.
Um dos supostos líderes do grupo, Marcelo Gerson de Paula, 34,
tinha um ferimento na cabeça e
foi socorrido. Nenhum dos feridos corre risco de morte.
Os invasores -16 homens, dez
mulheres e seis crianças- foram
levados à delegacia da Polícia Civil de Santo Amaro, a dois quilômetros da área do conflito.
Após triagem, cinco deles foram
autuados em flagrante e presos,
sob acusação de formação de quadrilha, resistência à ordem judicial e à prisão, desacato, incitação
ao crime, lesão corporal e por danificar e incendiar o prédio.
"Eles não podem ser qualificados de marginais", disse o advogado de quatro dos acusados, José
do Egito Negreiros Fernandes. Segundo ele, três presos disseram
que não participaram do confronto. Seu quarto cliente teria sido detido ao passar pelo local.
O confronto de ontem foi o
maior ocorrido neste ano em Pernambuco envolvendo sem-teto.
No dia 2 de maio, cerca de 300 integrantes do MTST (Movimento
dos Trabalhadores Sem Teto),
maior entidade de defesa dos
sem-teto, tomou um casarão pertencente à Cruz Vermelha (zona
norte de Recife). O imóvel já havia
sido invadido pelo grupo há dois
anos. Em outubro de 2004, eles foram retirados do local.
No dia 4 de maio, o MTST invadiu uma área da extinta Cibrazen
(Companhia Brasileira de Armazenamento), em Caruaru. Na
mesma data, famílias da Vila Imperial, ligadas à OLMT (Organização e Luta dos Movimentos Populares), invadiram a Prefeitura de
Recife para pedir a reapropriação
da área e auxílio-moradia.
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