São Paulo, domingo, 24 de agosto de 2008

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Medo de perder mãe levou menina à psicoterapia

DA REPORTAGEM LOCAL

Era Rosa, 44, sair de casa para trabalhar e sua filha, de 11 anos, começar a chorar, gritar, espernear -ela não conseguia ficar sozinha. O mesmo acontecia se tinha de usar um elevador ou até se um mosquito chegasse perto. "Eu sempre achava que era birra", diz a mãe. "Um dia perguntei por que ela chorava tanto quando eu saía e ela disse que tinha medo que eu morresse no meio da rua."
Até que Rosa viu a filha em pânico por causa das notícias que assistia na televisão -tudo "porque o derretimento das geleiras era um risco mundial". A menina deixou cair o chocolate que comia, seu coração disparou, ela começou a suar e foi ao banheiro vomitar.
"Aí eu vi que esse medo não era normal", diz Rosa, que levou a menina ao psiquiatra, depois que o marido viu no jornal que o Hospital das Clínicas fazia um estudo sobre transtornos de ansiedade. Achou que os sintomas batiam. E Rosa levou a menina ao hospital, se inscreveu e começou a tratá-la. O diagnóstico: TAG (Transtorno de Ansiedade Generalizada).
Era setembro de 2006, quando ela começou a fazer terapia psicológica e a tomar antidepressivos (clonipramina). Três meses depois, "ela já tinha melhorado uns 60%", diz Rosa. A menina começou a descer de elevador, a ficar sozinha, a ver televisão sem chorar. O tratamento durou nove meses. "Hoje é uma menina normal", diz.
Mas ela não teve medo de medicar a filha? "Muitas mães que conheci com filhos com o mesmo problema diziam: "Ai, remédio, meu Deus, não quero dar remédio pro meu filho tão pequeno". Eu também tive medo. Mas resolvi confiar."
Rosa diz que a escola era o único lugar em que a filha se sentia bem. Mas, aconselhada pela psicóloga, conversou com as professoras e explicou a ansiedade clínica da menina. E a filha segue com boas notas.

"Achava que ia morrer"
A filha de Rosa tem vocabulário e desenvoltura incomuns para os 11 anos. Seus cabelos castanhos são lisos e penteados, o rosto, diáfano, como de cera. Os olhos não param, como as mãos, que gesticulam sempre enquanto ela fala -e ela fala muito, o tempo todo.
"Eu tinha medo de tudo", diz, arrumando-se na cadeira do consultório onde esteve meses a fio. "Deixei de brincar para não pegar elevador. Quando minha mãe saía, eu entrava em pânico, achava que ela ia morrer. Mas hoje estou bem melhor", diz, balançando a cabeça.
Então ela pára, revolve a memória e segue narrando sua pequena epopéia. "Eu adoro Harry Potter, mas parei de ler por medo do lobisomem. Se um mosquito entrava na sala, eu começava a gritar, achava que se me picasse eu ia morrer. Sempre achava que ia morrer. Boba, né?" (WV)


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