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SAÚDE
Empresas só poderão funcionar com aval da Vigilância Sanitária; propaganda deve anunciar riscos, como câncer da pele
Bronzeamento em clínicas vai ter regras
João Wainer/Folha Imagem
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Funcionária do salão de cabeleireiros Jacques Janine, na Vila Nova Conceição (zona sul de São Paulo), mostra como é uma sessão de bronzeamento artificial |
DAGUITO RODRIGUES
FABIANE LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL
As cerca de 3.500 clínicas de
bronzeamento de todo o país serão obrigadas a ter registro e a
apresentar avaliação médica e termo de consentimento de todos os
clientes que "douram" sob as luzes artificiais.
A resolução que a Anvisa
(Agência Nacional de Vigilância
Sanitária) publica no próximo
mês também deverá proibir o
acesso de menores de 16 anos às
sessões de bronzeamento artificial. O procedimento está associado ao alto risco de desenvolvimento de câncer da pele. Jovens
entre 16 e 18 anos terão de apresentar consentimento assinado
pelos responsáveis legais.
A propaganda terá de apresentar os riscos do bronzeamento,
sob o risco de ser considerada publicidade enganosa. No mercado,
o procedimento já é vendido em
"pacotes" de dez sessões, a um
custo de R$ 120. A Anvisa recebeu
denúncia de queimadura causada
durante o procedimento.
A norma é mais um "ataque"
contra produtos estéticos populares. No começo do mês, o órgão
proibiu a comercialização e a publicidade de 12 aparelhos de ginástica passiva abdominal sem
registro. No caso das clínicas de
bronzeamento, a agência adotou
o princípio da "autodeterminação" na regulamentação, semelhante a existente nos Estados
Unidos e países europeus: cabe
aos interessados em se submeter
ao procedimento estético assumir
os riscos.
O termo de consentimento é
uma declaração de que o cliente se
submeteu a uma avaliação médica e que está ciente dos riscos desse bronzeamento.
A sociedade de dermatologia e
outras entidades médicas do país
defendiam o banimento do bronzeamento artificial. A norma foi
discutida pela agência em reuniões de que participaram a Sociedade Brasileira de Dermatologia e representantes de fabricantes das câmaras de bronzeamento. A Anvisa abriu uma consulta
pública, encerrada em março.
Marcus Maia, coordenador do
Projeto Nacional de Controle do
Câncer de Pele da Sociedade Brasileira de Dermatologia, participou das reuniões e disse que não
foi possível banir o produto porque a portaria enfrentaria forte
pressão de diferentes grupos. "Seria uma batalha sem efeito."
O chefe do Departamento de
Oncologia Cutânea do Hospital
do Câncer de São Paulo, Rogério
Izar Neves, lamentou que a Anvisa tenha transferido aos médicos
a tarefa de avalizar as sessões de
bronzeamento artificial.
"A agência jogou para os médicos em vez de assumir uma posição. Aquele que autorizar expõe o
paciente a um risco. É o mesmo
que autorizar alguém a fumar",
compara. "Algumas clínicas contratam médicos desqualificados
que avalizam o bronzeamento."
Neves diz que atendeu recentemente um jovem de olhos e pele
claros e com pintas que se submeteu durante cerca de quatro anos a
sessões frequentes com o aval de
um médico e desenvolveu melanoma, o câncer da pele mais
agressivo. O procedimento estético é especialmente vetado para
pessoas como o paciente.
A Associação Brasileira de
Bronzeamento, que representa
clínicas e empresas do ramo, se
posicionou a favor das novas normas. Cléverson Riggo, presidente
do órgão, disse que lamenta apenas o fato de elas "chegarem tardiamente". Para ele, a Anvisa poderia ter criado a regulamentação
há mais de um ano, quando o Estado de São Paulo apresentou sua
própria norma. Em dezembro de
2000, o CVS (Centro de Vigilância
Sanitária) paulista editou portaria
parecida com a resolução. O registro, aval médico e termo de
consentimentos são exigidos no
Estado desde 2001, quando 80 clínicas, só na capital, foram autuadas pela vigilância.
De acordo com Neves, o bronzeamento artificial é mais perigoso do que o banho de sol ao ar livre. Isso porque as câmaras utilizam especialmente radiação UV-A, associada em estudos recentes
ao melanoma. Os raios UV-A penetram nas camadas mais profundas da pele, provocando mutações. "Ele também é pior porque não provoca ardor. Você fica
se queimando e não sente."
De acordo com dados do Inca
(Instituto Nacional do Câncer),
órgão do Ministério da Saúde, os
câncer da pele não-melanoma
(menos agressivos) são os mais
frequentes no país entre todos os
tipos de câncer. Mais de 62 mil
novos casos neste ano no Brasil.
O câncer da pele do tipo melanoma, apesar de menos frequente
(são esperados cerca de 3.000 casos neste ano), é potencialmente
fatal se não for descoberto precocemente. "O câncer não vai surgir
logo após a exposição, mas em
cinco ou até dez anos depois das
sessões", diz o vice-presidente da
Sociedade Brasileira de Dermatologia, Márcio Rutowitsch.
Para Cláudio Maierovitch, da
Gerência Geral de Tecnologia de
Produtos para Saúde da Anvisa, a
demora no diagnóstico impossibilita responsabilizar as câmaras
pelas doenças.
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