São Paulo, sexta-feira, 24 de setembro de 2004

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MEMÓRIA

No início dos anos 80, drogas eram negócio familiar

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Escadinha foi chefe do tráfico de drogas no Rio em um tempo em que a atividade era negócio familiar e os traficantes, embora violentos, tinham convivência menos tumultuada com as comunidades pobres, disseram estudiosos ouvidos pela Folha.
Segundo a antropóloga Alba Zaluar, da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), essa relação devia-se ao fato de os chefes do tráfico da geração de Escadinha (fim dos anos 70 e meados dos 80) atuarem nos mesmos lugares em que tinham sido criados. Isso mudou com a entrada maciça da cocaína, que tornou o negócio mais lucrativo e aumentou a disputa de pontos-de-venda.
"O tráfico era um negócio familiar. Os traficantes eram donos das bocas, pessoas simpáticas e que tinham um certo respeito das comunidades. Hoje, o tráfico se profissionalizou e os traficantes são donos dos morros", diz.
A fragmentação entre diferentes facções tornou o tráfico mais violento, segundo o sociólogo Michel Misse, coordenador do Núcleo de Estudos da Cidadania, Conflito e Violência Urbana da UFRJ (universidade federal).

Perfil
Nascido em maio de 1956, no morro do Juramento (zona norte), Escadinha herdou, em 1978, o comando do tráfico local do pai, o Chileno. Na época com 22 anos, ele ascendeu rápido.
No Juramento, promovia ações assistencialistas. "Era muito querido. Sempre bateu na tecla de que só transava drogas, não era assaltante", disse o sociólogo.
Em 1982, as 26 anos, foi preso e levado ao presídio da de Ilha Grande, hoje desativado. Lá, aderiu à Falange Vermelha, antecessora do Comando Vermelho, fundada em 1979, por criminosos comuns que haviam convivido com presos políticos.
Na Ilha Grande, Escadinha iniciou sua carreira de fugas espetaculares. De lá, fugiu duas vezes. Na segunda fuga, que o tornou famoso, saiu no último dia de 1985, resgatado de helicóptero.
Escadinha ainda tentou escapar de presídios outras duas vezes, sem sucesso.
Convertido à igreja evangélica e há cinco anos no regime semi-aberto, dizia ter deixado a vida no crime.


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