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MEMÓRIA
No início dos anos 80, drogas eram negócio familiar
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
Escadinha foi chefe do tráfico de drogas no Rio em um
tempo em que a atividade
era negócio familiar e os traficantes, embora violentos,
tinham convivência menos
tumultuada com as comunidades pobres, disseram estudiosos ouvidos pela Folha.
Segundo a antropóloga Alba Zaluar, da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), essa relação devia-se
ao fato de os chefes do tráfico da geração de Escadinha
(fim dos anos 70 e meados
dos 80) atuarem nos mesmos lugares em que tinham
sido criados. Isso mudou
com a entrada maciça da cocaína, que tornou o negócio
mais lucrativo e aumentou a
disputa de pontos-de-venda.
"O tráfico era um negócio
familiar. Os traficantes eram
donos das bocas, pessoas
simpáticas e que tinham um
certo respeito das comunidades. Hoje, o tráfico se profissionalizou e os traficantes
são donos dos morros", diz.
A fragmentação entre diferentes facções tornou o tráfico mais violento, segundo o
sociólogo Michel Misse,
coordenador do Núcleo de
Estudos da Cidadania, Conflito e Violência Urbana da
UFRJ (universidade federal).
Perfil
Nascido em maio de 1956,
no morro do Juramento (zona norte), Escadinha herdou, em 1978, o comando do
tráfico local do pai, o Chileno. Na época com 22 anos,
ele ascendeu rápido.
No Juramento, promovia
ações assistencialistas. "Era
muito querido. Sempre bateu na tecla de que só transava drogas, não era assaltante", disse o sociólogo.
Em 1982, as 26 anos, foi
preso e levado ao presídio da
de Ilha Grande, hoje desativado. Lá, aderiu à Falange
Vermelha, antecessora do
Comando Vermelho, fundada em 1979, por criminosos
comuns que haviam convivido com presos políticos.
Na Ilha Grande, Escadinha
iniciou sua carreira de fugas
espetaculares. De lá, fugiu
duas vezes. Na segunda fuga,
que o tornou famoso, saiu
no último dia de 1985, resgatado de helicóptero.
Escadinha ainda tentou escapar de presídios outras
duas vezes, sem sucesso.
Convertido à igreja evangélica e há cinco anos no regime semi-aberto, dizia ter
deixado a vida no crime.
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