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Morador de rua não quer deixar a avenida Paulista
DANIELA TÓFOLI
DA REPORTAGEM LOCAL
O morador de rua da avenida
Paulista gosta do local onde vive.
Lá, afirmam, têm segurança e
condições de sobrevivência. Igrejas e associações dão comida, os
vizinhos doam roupas e não há
brigas entre grupos de moradores
como ocorre na praça da Sé.
Eles só sairiam de lá se tivessem
emprego e casa garantidos. Nada
de albergue. Nenhum morador de
rua da avenida quer ir para um
abrigo da prefeitura porque lá há
um prazo de estada.
A maioria veio do Nordeste,
mais especificamente do Ceará, e
tem profissão. Há office-boys, pedreiros, faxineiros e até ator. Muitos acabaram viciados em álcool e
boa parte não sabe ler nem escrever direito. O perfil do morador
de rua da Paulista acaba de ser revelado pela Associação Paulista
Viva e divulgado para a Folha.
A assistente social da associação, Lourdes Maria Mascigrande,
responsável pelo levantamento,
passou o mês de agosto percorrendo a avenida e as ruas do entorno. Dos mais de cem moradores de rua que identificou, 62 quiseram responder ao seu questionário. Desses, 58 são homens e
tem quem já esteja morando na
região há dez anos.
![](http://www1.folha.uol.com.br/fsp/images/ep.gif)
Folha - Por que a associação resolveu fazer o levantamento?
Lourdes Mascigrande - Queríamos conhecer a história desses
moradores de rua e saber por que
estão aqui para propor soluções.
Descobrimos que eles não gostam
dos abrigos e que na avenida conseguem sobreviver melhor.
Folha - Eles pedem esmola?
Lourdes - Muitos tem vergonha
de pedir. A maioria pede comida,
não dinheiro. Mas tem muita associação que ajuda. A igreja, por
exemplo, oferece almoço de terça
e sexta e os vizinhos, roupas. Eles
disseram que segurança e bondade é o que os faz ficar.
Folha - Esses moradores de rua
praticam pequenos assaltos?
Lourdes - De todos que ouvi,
apenas um, do grupo que fica embaixo do viaduto que liga a Paulista à Doutor Arnaldo, assumiu que
pratica furtos. Nesse grupo (que
teve de mudar de lugar porque a
prefeitura colocou uma rampa
para impedir sua permanência),
há 25 adolescentes, 4 adultos e 6
crianças, todos da zona sul, e a
maioria cheira cola.
Folha - Há muitos usuários de
drogas?
Lourdes - Dezoito disseram usar
álcool diariamente e três, maconha, cola e cocaína. Alguns não
usam drogas, mas apresentam
problemas mentais e têm comportamento estranho. Ficam, por
exemplo, o dia todo no vão livre
do Masp fingindo que lêem jornal
e, à noite, dormem nas calçadas.
Folha - Colocar rampas nos locais
onde ficam resolve o problema?
Lourdes - Não, eles vão acabar
encontrando outro canto. Nossa
proposta é que cada região encontre uma solução. Aqui, por exemplo, os comerciantes e empresários poderiam discutir um plano
de ação, talvez até propondo emprego a essas pessoas.
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