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Policial militar mata aluno em frente à escola
Jovem participava de comemoração; polícia foi chamada devido ao barulho
Mãe de Leonardo do Amaral, 17, que cursava o segundo ano do ensino médio, doou os órgãos de seu único filho
ROGÉRIO PAGNAN
DE SÃO PAULO
O estudante Leonardo
Bento do Amaral, 17, acordou
por volta das 6h de anteontem. Preparou-se para ir à escola cantarolando uma de
suas músicas prediletas.
Abraçou e beijou carinhosamente a mãe antes de sair.
No fim daquela tarde, menos de 12 horas depois, foi
baleado na cabeça por uma
policial militar em frente à
escola onde estudava no segundo ano do ensino médio,
a estadual Luís Magalhães de
Araújo, na Vila Remo (zona
sul). Sua morte foi decretada
às 12h50 de ontem.
"Estou muito feliz hoje,
mãe. Nem sei por quê. Queria
que a senhora soubesse que
eu a amo muito", repetiu Maria Lucinéia Bento, 45, as palavras de seu filho único.
"Parecia que ele pressentia algo. Só me arrependo por
não tê-lo beijado mais."
Leonardo, segundo parentes e amigos, não usava drogas nem gostava de bebida
alcoólica. Na escola, seu único "problema", segundo um
professor reclamou à mãe,
era ser muito namorador.
Quando foi baleado, Leonardo estava acompanhado
de um amigo, também adolescente. Comemoravam o
aniversário de uma colega e
dançavam na calçada com
outros estudantes e amigos.
Quando iniciaram a amizade, Maria Lucinéia pôs os
tios para investigar o rapaz.
Ao saber que não era usuário
de drogas nem envolvido
com crime, autorizou o filho
a manter a amizade. "Eu o
marcava em cima", disse ela.
O amigo contou à Folha
que, pouco antes das 17h, recebeu uma ligação de Leonardo. O convite era para o
aniversário. "Ficamos uns
sete minutos na festa." Logo
que chegaram, vieram veículos da polícia acionados por
vizinhos, incomodados com
o som alto de um carro.
O rapaz estava com uma
moto emprestada da mãe.
Como nem ele nem Leonardo
tinham habilitação, tentaram deixar o local. "Nem saímos direito, escutei o barulho. "É tiro", pensei. Aí, o Leo
começou a cair e eu o segurei
pelo braço. A policial não falou nada, chegou atirando."
ÓRGÃOS
Leonardo morava sozinho
numa casa de dois cômodos
com Maria Lucinéia. Quando
tinha três anos, o pai foi morar com outra mulher.
O sonho do estudante, segundo a mãe, era melhorar
de vida. Comprar uma casa
para ela (com dois quartos,
um para cada um) e, também, forma-se engenheiro
mecânico para trabalhar em
carros -sua outra paixão.
"Quando andávamos de
ônibus, ficava mostrando os
carros que achava bonitos e
dizia que um dia compraria."
Fazia inglês aos sábados à
tarde e, havia um mês, frequentava uma academia para ganhar massa muscular.
Tinha 1,77 m e 56 kg.
Essa vida saudável, para a
mãe, motivou-a a doar todos
os órgãos do filho. "O médico
me disse que ele vai salvar ao
menos sete vidas. Fico feliz."
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