São Paulo, sexta-feira, 24 de setembro de 2010

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Policial militar mata aluno em frente à escola

Jovem participava de comemoração; polícia foi chamada devido ao barulho

Mãe de Leonardo do Amaral, 17, que cursava o segundo ano do ensino médio, doou os órgãos de seu único filho

ROGÉRIO PAGNAN
DE SÃO PAULO

O estudante Leonardo Bento do Amaral, 17, acordou por volta das 6h de anteontem. Preparou-se para ir à escola cantarolando uma de suas músicas prediletas. Abraçou e beijou carinhosamente a mãe antes de sair.
No fim daquela tarde, menos de 12 horas depois, foi baleado na cabeça por uma policial militar em frente à escola onde estudava no segundo ano do ensino médio, a estadual Luís Magalhães de Araújo, na Vila Remo (zona sul). Sua morte foi decretada às 12h50 de ontem.
"Estou muito feliz hoje, mãe. Nem sei por quê. Queria que a senhora soubesse que eu a amo muito", repetiu Maria Lucinéia Bento, 45, as palavras de seu filho único.
"Parecia que ele pressentia algo. Só me arrependo por não tê-lo beijado mais."
Leonardo, segundo parentes e amigos, não usava drogas nem gostava de bebida alcoólica. Na escola, seu único "problema", segundo um professor reclamou à mãe, era ser muito namorador.
Quando foi baleado, Leonardo estava acompanhado de um amigo, também adolescente. Comemoravam o aniversário de uma colega e dançavam na calçada com outros estudantes e amigos.
Quando iniciaram a amizade, Maria Lucinéia pôs os tios para investigar o rapaz. Ao saber que não era usuário de drogas nem envolvido com crime, autorizou o filho a manter a amizade. "Eu o marcava em cima", disse ela.
O amigo contou à Folha que, pouco antes das 17h, recebeu uma ligação de Leonardo. O convite era para o aniversário. "Ficamos uns sete minutos na festa." Logo que chegaram, vieram veículos da polícia acionados por vizinhos, incomodados com o som alto de um carro.
O rapaz estava com uma moto emprestada da mãe. Como nem ele nem Leonardo tinham habilitação, tentaram deixar o local. "Nem saímos direito, escutei o barulho. "É tiro", pensei. Aí, o Leo começou a cair e eu o segurei pelo braço. A policial não falou nada, chegou atirando."

ÓRGÃOS
Leonardo morava sozinho numa casa de dois cômodos com Maria Lucinéia. Quando tinha três anos, o pai foi morar com outra mulher.
O sonho do estudante, segundo a mãe, era melhorar de vida. Comprar uma casa para ela (com dois quartos, um para cada um) e, também, forma-se engenheiro mecânico para trabalhar em carros -sua outra paixão.
"Quando andávamos de ônibus, ficava mostrando os carros que achava bonitos e dizia que um dia compraria."
Fazia inglês aos sábados à tarde e, havia um mês, frequentava uma academia para ganhar massa muscular. Tinha 1,77 m e 56 kg.
Essa vida saudável, para a mãe, motivou-a a doar todos os órgãos do filho. "O médico me disse que ele vai salvar ao menos sete vidas. Fico feliz."


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