São Paulo, Domingo, 24 de Outubro de 1999
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Documentos desmentem versão apresentada à USP

FÁTIMA GIGLIOTTI
enviada especial a Estrasburgo

Quem passa pela frente não imagina que o Café Via Brasilia, no número 68 da Avenida L'Hopital, em Estrasburgo (França), comercializa, além de café, chá e bombons, sofisticadas máquinas para pesquisa científica. Mas, a julgar pelos documentos guardados nos arquivos do setor de importações da USP, é este o local onde o professor Pierre Basmaji foi buscar auxílio para comprar os equipamentos russos que usou em suas pesquisas no Instituto de Física de São Carlos.
Via Brasilia é, na verdade, o nome fantasia da firma Miassini France. De acordo com documentos obtidos pela Folha no Tribunal de Instância de Estrasburgo, órgão que mantém o registro de empresas na região, o dono da Miassini é Michel Bassmaji (com um "s" a mais), irmão de Basmaji.
Michel também é dono da Jumana, a outra empresa que intermediou compras de máquinas russas. Trata-se de uma imobiliária, que funciona no mesmo prédio em que mora a mãe de Basmaji. Na porta, há duas placas: "SCI Jumana" e "Bassmaji."
O edifício, residencial, fica no número 199 da Avenida Colmar, também em Estrasburgo. A Jumana funciona no terceiro andar. O apartamento da matriarca dos Bassmaji fica no segundo.
Em depoimento à comissão de sindicância da USP, Pierre Basmaji havia declarado que seu irmão Michel era apenas funcionário da Miassini e da Jumana. Ele dissera também que a Jumana estava fechada desde 1995. A documentação obtida pela Folha o desmente nos dois casos.
Ao chegar a Estrasburgo, a repórter telefonou para a empresa Miasini France. Atendeu um sujeito que se identificou como senhor Miassini. Ele se disse disposto a prestar informações sobre importações de equipamentos.
A repórter levou menos de cinco minutos para chegar ao local. Estranhamente, o senhor Miassini já não estava. Um "funcionário" que se identificou apenas como François, disse que ele saíra e não tinha hora para voltar. Disse ainda que a empresa só importa café. E negou que um Basmaji trabalhasse no estabelecimento.
Apenas 24 horas depois, de posse do registro em que Michel Bassmaji aparece como dono da firma, a Folha retornou ao café. Uma terceira pessoa, que não quis se identificar, disse que, de fato, Michel é quem manda. Mas "só aparece de vez em quando."
Na Jumana, não havia ninguém nem na quinta nem na sexta-feira passada. No apartamento dos Basmaji, no andar de baixo, ouviram-se vozes atrás da porta, mas ninguém se animou a atender ao chamamento da campainha.


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