São Paulo, Domingo, 24 de Outubro de 1999
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EDUCAÇÃO
Pesquisa mostra que 15% das escolas de áreas metropolitanas do NO, NE e Centro-Oeste estão muito precárias
Falta luz e sobram trincos nas escolas

DANIELA FALCÃO
da Sucursal de Brasília

Escolas sem portas nem janelas, com iluminação deficiente, goteiras e rachaduras. Essa é a realidade de pelo menos 1.552 escolas de ensino fundamental das principais regiões metropolitanas do Norte, Nordeste e Centro-Oeste.
Levantamento do MEC obtido pela Folhadetectou que 15% das escolas públicas das áreas mais populosas dessas três regiões estão em estado de conservação tão ruim que não há como reformá-las. A única solução é reconstruí-las.
Foram analisadas 13,5 mil escolas públicas de ensino fundamental localizadas nas regiões metropolitanas das capitais ou nas segundas regiões mais populosas dos 17 Estados do Norte, Nordeste e Centro-Oeste.
Só as escolas em prédios próprios dos Estados e municípios (10,2 mil) tiveram a situação detalhada pelo levantamento. Dessas, 81% (8.329) precisam passar por algum tipo de reparo: pintura, troca de telhas e esquadrias, instalação de ventiladores ou consertos hidráulicos e elétricos.
A situação é mais grave nas escolas municipais localizadas na zona rural. Quase todas são escolas pequenas, com apenas uma sala, onde alunos de 1ª a 4ª série estudam misturados. Das 70 escolas em pior estado, todas estão na zona rural, 65 são municipais e 60 têm apenas uma sala.
O Pará é o Estado que tem mais escolas funcionando precariamente: 24 das 30 piores estão lá. "Aqui a gente faz de tudo", explica o professor Antonio Rodrigues da Silva, 33, da Escola Municipal "Santa Izabel", incluída na lista do MEC e localizada na zona rural de Jacundá, município com 45 mil habitantes, 81 escolas rurais e 22 urbanas.
Silva trabalha em um galpão de madeira com cerca de 30 metros quadrados. As paredes estão cheias de frestas, e as janelas, quebradas. No teto, faltam telhas. Quando chove, os alunos empurram as carteiras -tábuas sobre troncos- para os lados. Nos dias de calor, o professor transfere as aulas para o quintal, onde seus 21 alunos podem se sentar sob a sombra de árvores
O levantamento da situação dos prédios escolares foi realizado nos últimos dois anos pelo Fundescola -acordo de empréstimo entre o Banco Mundial e o MEC para melhorar a qualidade da educação nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste.
As piores escolas do ranking receberão prioritariamente os recursos do programa para reforma de prédios e compra de equipamento e mobiliário escolar.
No ano passado, o Fundescola repassou R$ 14,2 milhões para 784 escolas das regiões metropolitanas das capitais do Norte e do Centro-Oeste que estavam em pior situação.
As obras foram feitas entre janeiro e agosto deste ano. Ainda não foi definido quantas escolas serão beneficiadas na segunda etapa do programa, porque o empréstimo do Bird para 99 ainda não foi aprovado pelo Senado.
Mesmo analisando apenas as escolas localizadas no entorno das duas regiões mais populosas dos Estados, a falta de estrutura delas surpreende. Quase um terço das escolas (27,7%) não possui banheiro e 75% não têm biblioteca nem canto de leitura (para as com menos de três salas de aula), ambientes que todas deveriam ter, de acordo com os padrões mínimos de funcionamento estabelecidos pela LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação).
A situação é mais grave nas escolas municipais: 35,6% não têm banheiro e 86,3% carecem de biblioteca ou canto de leitura.


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