São Paulo, quarta-feira, 24 de outubro de 2001

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GREVE NAS FEDERAIS

Nas universidades financiadas com verbas da União, apenas 13,45% dos docentes recebem mais de R$ 5.000

Maioria dos professores ganha até R$ 3.000

MARTA SALOMON
SECRETÁRIA DE REDAÇÃO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Mais da metade dos quase 70 mil professores das universidades federais ganha menos de R$ 3.000. Dados do Ministério da Educação sobre o perfil salarial nas universidades mostram ainda que 14,5% dos docentes têm salários inferiores a R$ 1.000. Entre os não aposentados, essa parcela chega a 16,8%.
O levantamento inclui desde professores concursados com dedicação exclusiva, que dão 40 horas-aula por semana, até os professores substitutos, com contrato temporário de trabalho e carga horária de apenas 20 horas por semana. É nessa última categoria que se concentram as menores remunerações.
O perfil salarial das universidades é bem diferente do que foi apresentado pelo ministro Paulo Renato Souza (Educação) ao presidente Fernando Henrique Cardoso e a líderes partidários, na última quarta-feira. Na reunião, o ministro ganhou o aval do presidente para não ceder na negociação com os professores, que estão em greve há mais de dois meses.
A tabela que serviu de base para o debate no Palácio do Planalto lista apenas o número de professores ativos e inativos que ganham acima de R$ 5.000. Eles representam 13,5% do total de 69.864 professores das federais.
Na ocasião, o ministro sustentou que a parcela mais numerosa de professores registrava entre R$ 4.000 e R$ 5.000 nos contracheques. Segundo os dados do MEC, 16,6% deles estão nessa faixa.
Em uma divisão por faixas salariais de mil em mil reais, a fatia mais numerosa é a dos professores que ganham entre R$ 2.001 e R$ 3.000 (22,75% do total).
Ainda de acordo com os dados do MEC, a maioria dos professores das federais -66,7%- tem mestrado ou doutorado.
A tabela levada ao Planalto apontava ainda a existência de dois professores com vencimentos acima de R$ 30 mil. A informação é contestada pelo ""Diário Oficial" da União.
Segundo portaria do Ministério do Planejamento publicada no último dia 10, o mais alto salário pago nas universidades federais é de R$ 27.782. Trata-se do valor do salário bruto, antes do desconto chamado ""abate teto", mecanismo que tenta conter salários acima de R$ 8.000 na administração pública federal, equivalente ao salário de ministro de Estado.
Na prática, porém, há salários superiores ao teto de R$ 8.000 porque o desconto não incide sobre algumas gratificações.
René Teixeira Barreira, vice-reitor da Universidade Federal do Ceará, recebe o maior salário pago a um professor em atividade. Ele foi beneficiado, com outros 803 colegas, por uma decisão judicial de 1996 que mandou corrigir os salários em 84,32%. A correção foi reclamada durante o governo Collor. Graças à sentença, parte dos professores da UFCE são os mais bem pagos do país.
O professor também incorporou ao salário uma gratificação por ter dirigido o Centro de Humanidades da UFCE. Seu salário bruto é de R$ 23.265. O líquido, depois da incidência do desconto ""abate teto" e do Imposto de Renda, é de R$ 11.538.
A universidade também contesta a remuneração superior a R$ 30 mil atribuída ao ex-reitor Raimundo Hélio Leite. O professor aposentado tem vencimentos brutos de R$ 23.054. Com os descontos, o rendimento líquido cai para R$ 11.858.



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