São Paulo, quinta-feira, 24 de outubro de 2002

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CRIME ORGANIZADO

Ana Olivatto era advogada de integrantes da facção criminosa e deu informações à polícia

Mulher de líder do PCC é assassinada

ALESSANDRO SILVA
SÍLVIA CORRÊA
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma suposta guerra entre os principais líderes do PCC (Primeiro Comando da Capital) levou ontem ao assassinato de Ana Maria Olivatto Herbas Camacho, 45, mulher e advogada de um dos comandantes da facção criminosa, o assaltante Marcos Willians Herbas Camacho, 34, o Marcola. Ela havia dado informações à polícia sobre ações do PCC.
Vítima de uma emboscada, Ana foi morta menos de 15 horas depois de um ataque à escolta de Thomaz Alckmin, 19, filho do governador Geraldo Alckmin (PSDB), no qual um PM morreu.
A polícia duvida que haja alguma relação entre os casos, mas, por ignorar a motivação de ambos, não descarta a hipótese.
A advogada assassinada havia relatado à polícia, no final do mês passado, que o PCC planejava uma nova onda de atentados.
As autoridades não revelam a que nível de detalhes Ana chegou, mas foi ela, por exemplo, quem negociou com o PCC o abandono dos 30 quilos de explosivos e avisou à polícia, na segunda, que eles já estavam à disposição em um carro na rodovia Anhanguera.
A postura de Ana tinha motivos claros. A Justiça já pode conceder a liberdade condicional para Marcola, seu marido, se não houver ressalva em relação a seu comportamento. Inocentá-lo no caso de novos ataques seria, portanto, a intenção final de Ana.
Marcola já não fora denunciado pelos atentados realizados pela facção no primeiro semestre. Isolado em Brasília, ele não aparecia nas escutas telefônica.
Mas a parte da cúpula da facção ligada a José Márcio Felício, o Geleião, interpretou como traição o fato de Marcola ter evitado se envolver nas ações ao depor.
Desde então, em maio, a cúpula do PCC está dividida. Geleião encabeça a ala radical -que defende atentados para desmoralizar o governo- e Marcola comanda um grupo mais "moderado".
A polícia manteve em sigilo seus contatos com Ana e diz que nunca ouviu da advogada relatos de ameaça, mas a família dela diz que elas ocorriam, por telefone.
Com base nas informações recebidas, as autoridades fizeram novos grampos telefônicos e prenderam no domingo a mulher de Geleião, Petronilha Felício, 51.
Petronilha, segundo a polícia, planejava a morte de Aurinete Félix da Silva, mulher de César Roris, outro líder da facção. Aurinete, como Ana, estaria tentando evitar os atentados de Geleião.
"Quero uma festa por dia", teria dito Petronilha nas gravações, se referindo a ações do PCC.
Anteontem, Ana e outros três advogados acompanharam o depoimento de Petronilha à polícia.
"Vou trabalhar com a hipótese de desentendimento entre eles e com todas as outras possíveis, menos com a de assalto, porque houve uma execução", disse o delegado Rui Ferraz Fontes.
Ana Maria foi morta entre 11h e 11h30 de ontem quando saía de casa -um sobrado de classe média baixa na periferia de Guarulhos (Grande SP). A empregada abria o portão para a advogada sair de carro quando um homem encapuzado se aproximou.
A moça, cujo nome será mantido em sigilo, foi empurrada, mas conseguiu ver o assassino segurando o rosto de Ana e disparando dois tiros com uma pistola 45.
Eles atingiram a nuca da vítima, que caiu no banco de trás de seu Palio. O homem fugiu em um carro escuro. Ao volante, dizem vizinhos, estava uma mulher.
Os vizinhos que viram a ação pedem sigilo de seus nomes. Todos sabem que Ana defendia o PCC. Segundo um deles, ela saía ontem de casa para ir a Presidente Bernardes, informação confirmada pela delegado Fontes.


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