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BARBARA GANCIA
Ninguém mais ri das fotos no maço de cigarros
Pela segunda vez no ano,
sinto-me compelida a utilizar este espaço na defesa do galináceo tapuia. Como se não bastassem o que fazemos com as penudas nas encruzilhadas do país
e os sorrisos que nos escapam dos
lábios a cada vez que aquele frango inconsequente de capacete surge na TV para promover o consumo de colegas seus que foram
brutalmente assassinados, fatiados e congelados, agora demos
para usar galinhas como forma
de protesto.
Pois sabe que fim teve a galinha
que foi atirada sobre a prefeita?
Disseram que ela havia sido adotada como mascote de um canal
de TV. Balela! Acabou virando
ensopado no fogão de um certo
porteiro de faculdade. E as seis
plumosas que foram usadas no
protesto contra os jogadores do
Fluminense, o nobre leitor saberia dizer onde elas se encontram
agora? Foram abandonadas à
própria sorte em uma caçamba
de lixo próxima ao estádio.
O filme em animação de massinha de modelar "A Fuga das Galinhas" mostrou ao mundo um
grupo de valorosas aves inglesas
que escapa de um campo de prisioneiros. Já as nossas plumosas
são motivo de riso até na CNN.
Na quarta-feira, em meio aos
gracejos dos apresentadores, a
emissora repetiu inúmeras vezes
as cenas de Romário esbofeteando o torcedor acompanhadas de
closes das aves.
Eles têm mais é de rir, mesmo.
Nosso futebol ultrapassou todos
os limites da melancolia. Veja só:
no domingo tive a boa sorte de assistir, in loco, em Fort Lauderdale,
na Flórida, ao jogo de futebol
americano entre os Miami Dolphins e os New England Patriots.
Encontrei um estádio lotado, com
lugares marcados até para estacionar o carro, em que os torcedores dos dois times esbarravam uns
nos outros, sem maiores traumas,
dentro e fora do estádio.
Minha entrada, em cadeira numerada, dava direito a um lauto
repasto em local acarpetado, com
ar-condicionado e ambientado
com música ao vivo. Está certo
que custou US$ 180,00. Mas um
assento na geral não sai por menos de US$ 70,00, preço justo pelo
padrão americano.
Os gringos que acompanharam
a mim e à minha tresloucada
amiga Bucicleide (pois é, a bicha
não larga do meu pé) riram muito quando Buci, digo, Cleide sacou um maço de cigarros com a
foto do fumante impotente impressa no verso. Acharam a imagem amena demais. Pois não é
que agora dá vontade de voltar
aos EUA só para esfregar na cara
deles as fotos fantasmagóricas da
nova leva?
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