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São Paulo, sexta-feira, 24 de outubro de 2003

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VIOLÊNCIA

Após assaltos perto de escolas no Alto de Pinheiros, alunos deixaram de frequentar parque e só voltam para casa acompanhados

Insegurança muda rotina de estudantes

SIMONE IWASSO
DA REPORTAGEM LOCAL

Andar alguns quarteirões a mais para ir ao shopping só para evitar ruas sem movimento, voltar para casa em grupo e deixar de frequentar o parque Villa Lobos. Inseguros com a série de assaltos em plena luz do dia, alunos de escolas particulares da região do Alto de Pinheiros (zona oeste de São Paulo) já mudaram sua rotina.
"Desde o começo do ano mudamos o caminho para o shopping, mas no parque Villa Lobos não dá para ir. É dar chance para o azar", conta T., 14, aluno do colégio Santa Cruz. Ele diz que vários de seus amigos foram roubados no parque. "Sempre havia uns caras que ficavam seguindo a gente, queriam o relógio, dinheiro ou celular", diz F., 14, da mesma escola, que já teve o relógio roubado.
M., 13, aluno do Vera Cruz, chegou a ser assaltado duas vezes na mesma rua, também ao voltar do parque. "Disse para o ladrão que tinha acabado de ser assaltado e não tinha mais nada comigo." Ele conta que os ladrões levaram R$ 5 dele. O amigo perdeu o celular.
O adolescente contou o caso para os pais, mas alguns preferem omitir os roubos temendo que, mesmo morando tão perto da escola, não possam mais andar sozinhos: "Prefiro não contar, minha mãe não sabe de nada do que acontece. Tenho medo de que ela me proíba de andar sozinho no bairro", diz L., 14, do Vera Cruz, que nunca foi assaltado.
Segundo os alunos, os assaltos geralmente são cometidos por adolescentes desarmados. E os alvos são, principalmente, os estudantes menores, de 12 a 14 anos.
Por conta dos assaltos, alguns pais de alunos do Vera Cruz voltaram a defender, por exemplo, o fim do recreio aberto -quando os estudantes da quinta à oitava série podem deixar a escola, das 11h às 11h30, para frequentar a praça em frente ao colégio.
O colégio, porém, diz que já fez uma pesquisa com os pais sobre esse assunto em 2002 e a maioria decidiu por manter o esquema.
"Uma das coisas que nós enfatizamos é que os nossos filhos devem continuar a ir a pé para a escola. Estamos brigando contra essa visão que pretende trancar cada vez mais as crianças e jovens dentro de condomínios fechados", afirma José Cunha, pai de um aluno do colégio Vera Cruz.
Assim como Cunha, pais de alunos de escolas da região -Santa Clara, Santa Cruz, Vera Cruz, Rainha da Paz e Hugo Sarmento- têm se reunido com o Conseg (Conselho Comunitário de Segurança) de Pinheiros para discutir como melhorar a segurança.
"Não achamos que prender um ou dois adolescentes vá solucionar o problema. Muito menos queremos nos trancar em carros blindados. Estamos discutindo com a polícia e com os moradores atitudes preventivas, mas que também possam mostrar que um ato criminoso tem punição", diz Miklos Hromada.
Para Hromada, uma presença maior da polícia no bairro pode aumentar o efeito de segurança. O grupo tenta, por exemplo, ampliar do horário em que a Polícia Militar faz rondas nas ruas próximas às escolas.
Os pais tentam ainda conscientizar sobre a importância do boletim de ocorrência. Segundo o delegado José Pereira, do 14º DP, responsável pela região, os crimes precisam ser registrados para a polícia poder agir. "Estamos cobrando dos pais que registrem os casos para podermos investigar."


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